Conhecendo os quadrinhos parte 20:Tiras em quadrinhos
- Iuri Biagioni Rodrigues
- 18 de out. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 22 de dez. de 2024
Vamos conhecer um pouco mais sobre as famosas tiras de quadrinhos!
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
Se você tinha (ou tem) o hábito de ler jornais ou acompanha jornais digitais, portais de notícias nas redes sociais e perfis de quadrinistas ou sobre histórias em quadrinhos, certamente já se deparou com as tiras de quadrinhos, não é mesmo? Mas será que você sabe definir o que são tiras? Ou quando elas surgiram? Ou ainda quais são os tipos de tiras? Caso você não saiba, é exatamente sobre isso que falaremos nessa vigésima parte da série Conhecendo os quadrinhos!
Primeiramente, vale lembrar que na parte 3 vimos que as histórias em quadrinhos são um hipergênero, ou seja, um gênero amplo que abriga vários outros, cada um com suas particularidades. Assim, os quadrinhos seriam um grande guarda-chuva que abarcam diversos gêneros e formatos. Portanto, as tiras estão dentro desse guarda-chuva.
Para compreender a origem das tiras, como destaca Paulo Ramos em material para a fundação Demócrito Rocha, é preciso olhar a produção dos jornais dos séculos XVIII e XIX. Nesse período, não havia fotos, então os periódicos usavam ilustrações conhecidas como caricaturas ao lado das notícias. Elas possuíam tamanhos variados; algumas eram do tamanho de uma página inteira e outras eram menores. O professor e pesquisador também explica que o número de quadros também variava. Deste modo, a arte poderia ocupar uma única cena ou ser dividida em várias.
Como já vimos na parte 2, as primeiras histórias em quadrinhos que surgiram foram no formato de tiras no século XIX, e não há consenso em qual foi a primeira ou onde surgiu. Podemos mencionar o pioneirismo de Rodolphe Töpffer (Histoire de M. Vieux Bois, de 1827), Wilhelm Busch (Max und Moritz, de 1865), Angelo Agostini (As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, de 1869),Richard Felton Outcault ( Yellow Kid, de 1895), Rudolph Dirks (Katzenjammer Kids, de 1897), entre outros.
Na virada para o século XX, a variação no formato continuou. Entretanto, como explica Paulo Ramos, a situação mudou em 1907, quando o estadunidense Bud Fisher (1885-1954) criou a série A. Mutt, posteriormente chamada Mutt e Jeff. Ele percebeu que poderia vender a mesma história para mais de um jornal, caso a fizesse sempre do mesmo tamanho. O formato escolhido por Fisher foi o horizontal e retangular, que se tornou o formato fixo. (Esse formato era adotado nas tiras publicadas de segunda a sábado nos jornais. Aos domingos, os artistas tinham mais espaço para criar suas histórias.) Além disso, o formato vertical também poderia ser encontrado em alguns casos.
Em um fascículo do material do curso básico de histórias em quadrinhos da Fundação Demócrito Rocha, o médico e cartunista Waldemar Lene Chaves define as tiras como: "uma narrativa gráfica curta, composta por uma sequência de imagens interligadas pelo seu conteúdo, podendo conter texto em balões e recordatórios, geralmente com o objetivo de transmitir humor ou de narrar uma história ou seu trecho." Ele também destaca que elas podem conter todos os elementos de uma história em quadrinhos (balões, recordatórios, onomatopeias, requadros, emanatas, etc), mas são muito mais concisas.
O autor acima citado ensina que a classificação das tiras é feita pelo seu formato e destaca os três mais importantes:
1) Tiras Diárias: são aquelas publicadas em jornais de segunda a sábado. Elas podem ter de 1 a 4 quadros no formato horizontal, geralmente com o mesmo tamanho. Alguns quadrinistas gostam de variar o tamanho, formato e posicionamento dos quadros.
Esse formato pode trazer uma história ou mensagem completa em uma única tira ou pode possuir continuações; quando isso acontece, utilizamos o termo tiras seriadas. Outras podem ficar no meio termo, ou seja, podem ser lidas de forma independente, mas formam uma unidade narrativa maior.
2) Tiras Dominicais: como o nome sugere, são tiras publicadas aos domingos. A principal característica delas é o fato de ocuparem um espaço maior nas páginas dos suplementos de jornais. Em geral, elas ocupam um espaço equivalente a três ou quatro tiras diárias.
Como possuem mais quadros, as tiras dominicais permitem o desenvolvimento de histórias um pouco mais complexas.
3) Tiras da Internet: também podem ser chamadas de webcomics e webtiras. Essas produções possuem um formato adequado para a leitura em páginas da internet. A sequência dos quadros pode ser vertical (para que a pessoa leitura utilize a barra de rolagem ou o dedo para mudar os quadros) ou horizontal, no caso de redes sociais como o Instagram, onde cada quadro é um carrossel da publicação e as pessoas arrastam para o lado para realizar a leitura. Algumas webtiras adaptam-se ao formato de tela widescreen dos computadores. Além disso, obviamente, o formato tradicional de tira diária e dominical também pode ser adotado.
Outro aspecto interessante desse formato é que existe a possibilidade de adicionar efeitos de animação, som, interatividade e outros elemento que podem tornar a narrativa mais rica e a leitura mais divertida e dinâmica.
Entre as vantagens do formato digital, podemos mencionar a facilidade de publicação e a ampliação do alcance. As webtiras podem ser publicadas em blogs, sites, plataformas e/ou aplicativos especializados em publicações de quadrinhos. Nesse formato, não há a necessidade de um editor nem das restrições de circulação da mídia impressa.
Confira algumas dicas de webtiras que você pode acompanhar: Um Sábado Qualquer de Carlos Ruas, Téo e o Mini Mundo de Caetano Cury, as várias tiras da Helô D' Angelo, diversas da Carol Ito, Os pássaros da Lark, Ângulo de Vista e outras do Rafael Fritzen, Dona Anésia do Will Leite, Maria Espirituosa de Henrique Magalhães, Causos da Floresta de Tai e Nil, tiras do perfil Little Goat comics de Lua Mota, Tiras de Lila Cruz , As várias tiras publicadas na Mina de HQ
Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre os gêneros das tiras conforme a classificação de Paulo Ramos.
1) Tira Cômica: a maioria das tiras traz situações humorísticas. Em geral, essas tiras são parecidas com piadas. Isso ocorre porque ambas constroem uma narrativa para, no fim, trazer um desfecho inesperado que costuma gerar a graça da história.
A tira cômica pode ter um personagem fixo, que dá nome ao título da série e aparece quase em todas as tiras, ou pode ter algum personagem que foi criado especificamente para uma história. Esse último recurso tem sido comum em algumas produções brasileiras atuais.
Entre os principais exemplos de tiras cômicas temos: Recruta Zero de Mort Walker, Peanuts de Charles M. Schulz, Garfield de Jim Davis, Hagar, o Horrível de Dik Browne e Chris Browne, Mafalda de Quino, Macanudo de Liniers, Rê Bordosa, Bob Cuspe e Os Skrotinhos de Angeli, Geraldão e Casal Neuras de Glauco, Níquel Náusea de Fernando Gonsales, Os Patos (Ciça), Bichinhos de Jardim de Clara Gomes.
Obs: Há também as tiras cômicas seriadas como Calvin e Haroldo de Bill Watterson e Ed Mort de Luis Fernando Veríssimo e Miguel Paiva.
Exemplo 1: Tira de Recruta Zero Por Mort Walker - Editora Ediouro
Exemplo 2: Tira de Macanudo por Liniers - Editora Zarabatana
Exemplo 3: Os patos de Ciça
Exemplo 4: Bichinhos de Jardim
2) Tiras de aventura: também conhecidas como tiras seriadas, elas trazem uma narrativa maior e episódica, de maneira similar a uma novela ou série de TV. Comumente, elas contam tramas com aventura, ação e ficção científica. As tiras de aventura eram muito comuns em décadas passadas. Como exemplos de tiras desse gênero temos: Fantasma e Mandrake de Lee Falk, Flash Gordon de Alex Raymond, Buck Rogers de Philip Francis Nowlan, Dick Tracy de Chester Gould.
Exemplo: Flash Gordon de Alex Raymond - Editora Pixel
3) Tiras livres: essas produções são marcadas pela ausência de rigor na utilização de elementos narrativos na composição da história. Nem narrativa esse tipo de tira precisa ser. Elas se assemelham a experimentações gráficas ou produções como poemas e microcontos. Como exemplo temos: Manual do Minotauro e muitas outras de Laerte, Ordinário de Rafael Sica, SIC de Orlandeli e Quadrinhofilia de José Aguiar.
Exemplo 1: Tira de Manual do Minotauro por Laerte - Editora Quadrinhos na Cia.
Exemplo 2: Ordinário de Rafael Sica
Obs: As tiras de quadrinhos são comumente chamadas de tirinhas, mas o termo pode trazer conotações depreciativas, por isso, prefiro usar o termo tira.
Curiosidade 1: muitos dos personagens mais conhecidos atualmente surgiram em tiras em quadrinhos. Esse é o caso de Popeye, Bidu, Franjinha, Mônica, Cebolinha, Astronauta, entre outros personagens criados por Maurício de Sousa. Charlie Brown, Snoopy, Garfield, Calvin, Fantasma, Hagar, o Horrível, Mafalda, entre outros surgiram em tiras.
Curiosidade 2: personagens como Mulher-Maravilha, Homem-Aranha , Conan, Mickey, Donald e outros já tiveram suas próprias tiras.
Texto produzido com base nos materiais da fundação Demócrito Rocha citados anteriormente, no artigo Tira ou tirinha? Um gênero com nome relativamente instável e no livro a Leitura dos Quadrinhos (ambos de Paulo Ramos)
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