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Crítica | Absolute Batman – Vol. 1: O Zoológico

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • há 1 minuto
  • 4 min de leitura

Um Batman diferente (mas até que ponto?) 

Por Igor Biagioni Rodrigues.


Absolute Batman
Capa de Absolute Batman #01- DC Comics por Nick Dragotta

Em setembro de 2024 teve início uma nova proposta editorial da DC Comics, capitaneada por Scott Snyder: a criação de um novo universo alternativo para seus personagens (nos moldes do que foi o Universo Ultimate da Marvel, iniciado nos anos 2000, finalizado em 2015 e reiniciado também em 2024). Esse novo universo recebeu o nome de Universo Absolute. Após os acontecimentos da mega-saga Poder Absoluto e da one-shot especial DC Sem Limites, um novo mundo foi criado para acompanharmos versões inéditas dos heróis da editora. E, obviamente, o primeiro a estrelar um título foi ninguém menos que o Batman.


A proposta era criar uma nova linha narrativa que começasse do zero, um ótimo plano editorial para servir como porta de entrada a novos leitores. Com roteiro de Scott Snyder e arte de Nick Dragotta, o arco inicial, composto por seis edições, apresenta a seguinte premissa: em uma versão alternativa e sombria de Gotham City, Alfred Pennyworth, agente de uma organização secreta, é enviado para investigar um grupo terrorista conhecido como Os Animais Festeiros, liderado pelo criminoso Roman Sionis. Enquanto tenta cumprir sua missão, Alfred enfrenta também seus próprios fantasmas entre eles, o relacionamento conturbado com sua filha, Julia. Nesse mesmo mundo, Bruce Wayne não é o herdeiro da fortuna dos Wayne, mas um jovem do Beco do Crime que, após presenciar o assassinato do pai durante um tiroteio em massa numa visita ao zoológico, decide travar sua própria guerra contra o crime como o vigilante Batman.


À medida que seus caminhos se cruzam, Alfred e Batman entram em conflito e, depois, em uma aliança instável, unindo forças para enfrentar Sionis e os Animais Festeiros, cujos ataques mergulham Gotham no caos e despertam a desconfiança da população em relação ao prefeito Jim Gordon. O que se segue é uma narrativa repleta de conspirações políticas, corrupção e dilemas morais; com o embate e a parceria entre Pennyworth e Wayne refletindo não apenas diferentes visões de justiça, mas também o peso da culpa e da redenção. No centro desse caos, surge a promessa de um inimigo ainda maior: o Coringa, manipulando todos os fios por trás das sombras.


Absolute Batman
Vinhetas de Absolute Batman #01- DC Comics

Scott Snyder é conhecido por começar bem suas histórias, mas finalizá-las de forma, no mínimo, questionável. Não é o caso deste primeiro arco, que inicia de maneira envolvente e, embora seu desfecho se estenda um pouco, repita certas ideias e apresente um final anticlimático, mantém uma qualidade narrativa consistente. A trama é interessante e nos mantém curiosos pelo que virá a seguir, mas o verdadeiro destaque está na arte de Nick Dragotta. Seja em pequenas vinhetas ou em splash pages, seu traço é primoroso; e o design dos personagens é impecável (não à toa, cada novo modelo divulgado pelo artista em suas redes sociais gera longos debates na internet).

Dragotta não desenha apenas a quarta edição que é feita por Gabriel Hernández Walta, e funciona como uma espécie de "Ano Um" para esse Batman. Além disso, as cores de Frank Martin, especialmente nos flashbacks, representados com tons pastéis. A transição entre passado e futuro não seria a mesma coisa se não fosse a utilização de cores pastéis para representar os flashbacks, um recurso simples, mas extremamente funcional. Vez ou outra a utilização das vinhetas e sarjetas se torna mais diegética, rendendo sempre bons momentos visuais. 


Absolute Batman
Vinhetas de Absolute Batman #06- DC Comics

Agora, foquemos um pouco na construção desse “novo Batman”. Como dito anteriormente, ele não é rico: seu pai era professor, e sua mãe, Martha, concorre como vice-prefeita na tentativa de reeleição de Gordon. Bruce é um jovem de 24 anos, engenheiro civil, e conhece Gotham como ninguém por trabalhar em toda a cidade. Outro ponto fora da curva é o fato de seu grupo de amigos ser composto por versões jovens de sua clássica galeria de vilões (Waylon Jones, Harvey Dent, Edward Nigma, Oswald Cobblepot e Selina Kyle), com quem costuma jogar pôquer e discutir os rumos da cidade. Fora isso, porém, não há algo realmente inovador na concepção deste Batman.


Ok, ele não é rico, mas, por ser engenheiro, construiu diversas bases secretas espalhadas por Gotham, um traje tático com um símbolo de morcego no peito que vira um machado (isso foi bem criativo) e possui um batmóvel gigantesco. Snyder não se preocupa em explicar como tudo isso é possível; apenas pede que acreditemos. E, francamente, faço isso com a maior boa vontade.


Eu e meu irmão costumamos brincar dizendo que “Frank Miller cria, o resto copia”, já que muitas de suas ideias foram referenciadas, reformuladas e até desgastadas ao longo dos anos, dentro e fora dos quadrinhos. É fato que, desde a publicação de Batman: O Cavaleiro das Trevas (1986) — goste você ou não dessa história (tem gente que não gosta?) —, a maneira de se pensar o personagem foi completamente ressignificada, tanto nos quadrinhos quanto no audiovisual, passando pelo polêmico Batman de Jim Starlin até o de Zack Snyder.


Absolute Batman
Vinhetas de Absolute Batman #06- DC Comics

Essa nova versão, totalmente musculosa, violenta (que não mata, mas não se importa em decepar membros alheios e chutar crianças) e edgy - termo que descreve algo ousado, provocativo ou inovador, marcado por uma estética sombria, rebelde e contrária ao sistema - não é exatamente original, mas sim um amálgama de várias versões anteriores do personagem. Isso não diminui a qualidade da HQ, mas faz questionar o discurso de “um Batman como você nunca viu antes”.


Em suma, apesar de não ser tão inovador quanto prometia, esse primeiro arco de Absolute Batman demonstra um caminho promissor para essa nova encarnação do herói e para o seu universo. E não acho que seja cedo para dizer que já se tornou um fenômeno moderno dos quadrinhos de heróis, e o melhor de tudo: está atraindo cada vez mais novos leitores. 


Absolute Batman
Vinheta de Absolute Batman #01- DC Comics

Para quem só se importa com números:

Nota- 7/10.


Ficha:

Publicação e Título Original: (Absolute Batman – Vol. 1: The Zoo – EUA, 2024/25)

Histórias: Absolute Batman # 1 a 6

Roteiro: Scott Snyder

Arte: Nick Dragotta, Gabriel Hernández Walta (#4)

Cores: Frank Martin

Letras: Clayton Cowles

Editoria: Sabrina Futch, Katie Kubert, Chris Conroy

Editora: DC Comics

Editora no Brasil: Panini Comics (até o momento só as duas primeiras histórias foram publicadas

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