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Crítica | "Amores Materialistas" (2025)

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • 7 de ago.
  • 3 min de leitura

Negócios, negócios… Amor, à parte.

Por Igor Biagioni Rodrigues.

Amores Materialistas
"Amores Materialistas"- Divulgação/A24

Após o sucesso do excelente "Vidas Passadas", era inevitável a expectativa em torno do novo trabalho da diretora e roteirista Celine Song. "Amores Materialistas" inicialmente parecia uma comédia romântica nos moldes do início dos anos 2000, com um elenco de peso e alguns clichês do gênero. No entanto, a diretora entrega um filme diferente: não uma comédia romântica convencional, mas um conto que busca questionar os relacionamentos contemporâneos, os contratos sociais nos quais são forjados, e, sobretudo, se é realmente possível amar.


Ao apresentar o casamento como uma construção histórica, o filme evoca a noção de contrato social, não no sentido político clássico proposto por Hobbes, Locke ou Rousseau, mas como um acordo coletivo que regula o comportamento afetivo e define o que é esperado de uma relação amorosa. A instituição do matrimônio, nesse contexto, funciona como um pacto que busca organizar os afetos dentro de uma lógica de estabilidade, conveniência e produtividade social.


Mas é a partir da tensão entre esse contrato tradicional e o desejo individual que o filme realmente se constrói. Byung-Chul Han, em “A Agonia do Eros”, argumenta que o amor está em crise na sociedade contemporânea, pois vivemos voltados para o desempenho, o consumo e o narcisismo. 


"Amores Materialistas" conversa diretamente com essa ideia. O longa gira em torno de Lucy (Dakota Johnson), uma casamenteira que se vê envolvida em um triângulo amoroso conturbado. Ainda apaixonada por John (Chris Evans), um garçom aspirante a ator, Lucy inicia um relacionamento com Harry (Pedro Pascal), um homem rico e irmão do noivo de um casal que ela uniu com sucesso. Harry aparenta ser o par ideal, mas um reencontro inesperado com John faz com que Lucy questione seus sentimentos e reavalie o amor imperfeito que deixou para trás.


Amores Materialistas
Dakota Johnson e Pedro Pascal em "Amores Materialistas"- Divulgação/A24

A película se inicia com um prólogo que propõe uma reflexão sobre o surgimento da convenção social conhecida como matrimônio. Apesar do tom sarcástico, dos diálogos extensos e de uma fotografia interessante, esperava mais do trabalho de Song, muito por conta de sua obra anterior. Em "Vidas Passadas", a diretora apresentou um texto inteligente, aliado a uma direção teatral que construía planos e campos visuais com linhas e paralelos que comunicavam muito, atribuindo significado ao texto e à narrativa sem precisar dizer tudo. Em "Amores Materialistas", há leves acenos dessa construção teatral nos enquadramentos que somam à narrativa, como, por exemplo, quando Harry está em cena, os planos são abertos e a câmera é estática, simbolizando o conforto financeiro e a comodidade social que ele representa; enquanto com John, os planos são fechados e a câmera é na mão, provocando uma instabilidade que simboliza a paixão. Mas nada vai muito além disso.


Aliás, Song confia excessivamente na mensagem que deseja transmitir: como se dão as relações, especialmente o amor, em uma sociedade moderna regida pelo capitalismo tardio? A resposta, segundo o filme, é: como um negócio. Em seu trabalho, Lucy trata seus clientes como mercadorias ou ativos, categorizando-os por meio de valores. Após tentar aplicar essa lógica à própria vida , e especialmente após um acontecimento fatídico envolvendo uma de suas clientes, Lucy começa a repensar sua profissão, suas ideias e, acima de tudo, sua concepção de amor.


O filme não é ruim e conta com uma escolha de elenco inteligente, com atores que representam, em seus papéis, aquilo que foram "categorizados" na vida real: Pedro Pascal, o ator que vive um momento de destaque em sua carreira, estando em diversas produções, Dakota Johnson, uma atriz com potencial mas que nunca recebeu um papel realmente relevante, e Chris Evans, que fora o fato de ter interpretado o Capitão América, não é levado a sério.


Apesar do elenco carismático, das discussões instigantes e do mérito em tratar o amor de forma cínica, mas esperançosa, "Amores Materialistas" infelizmente não vai além do óbvio, ficando muito aquém do domínio narrativo e da direção que Song demonstrou em seu projeto de estreia.


Para quem só se importa com números:

Nota- 6/10.


Ficha Técnica:

Título Original: Materialists

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Celine Song

Direção: Celine Song

Duração: 116 min.

Classificação: 14 anos


Elenco:

Dakota Johnson como Lucy

Pedro Pascal como Harry

Chris Evans como John

Zoe Winters como Sophie

Marin Ireland como Violet

Dasha Nekrasova como Daisy

Eddie Cahill como Robert

Sawyer Spielberg como Mason


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