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Conhecendo os Quadrinhos parte 10: Onomatopeias

Vamos conhecer o que são as onomatopeias e quais são as suas funções em uma HQ

Por: Iuri Biagioni Rodrigues


Chegamos à décima parte da série Conhecendo os Quadrinhos! Dando continuidade aos elementos constituintes das histórias em quadrinhos, vamos falar sobre as onomatopeias e conhecer suas funções dentro de uma HQ.


O termo onomatopeia tem origem no grego (onomaton, substantivo, nome; poiesis, criação), ou seja, significa a criação de um som.


As onomatopeias são signos convencionais que buscam representar ou imitar sons por meio de caracteres alfabéticos. (As representações podem variar de idioma para idioma). No capítulo "A linguagem dos quadrinhos uma alfabetização necessária" do livro Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula, o professor e pesquisador Waldomiro Vergueiro lembra que as onomatopeias são amplamente utilizadas na literatura, e por isso, não são elementos específicos dos quadrinhos, porém, a plasticidade e a sugestão gráficas que elas assumiram nas HQs são bem específicas e importantes para esta linguagem.


De uma maneira geral, as onomatopeias são grafadas em caracteres grandes e próximas do local em que ocorreu o som que procuram retratar e podem estar do lado de fora ou dentro de um balão. Vergueiro destaca que a maioria das onomatopeias provém do idioma inglês, mas destaca que isso não é uma regra e que cada país pode representá-las de uma determinada maneira. O autor toma como exemplo o canto de um galo que em francês seria "ki-ki-ri-ki-ki" e que em português é "co-co-có-ri-có ou ainda "có-có-ró-có".


Moacy Cirne, em BUM! A explosão criativa de 1970, diz que "o ruído nos quadrinhos, mais que sonoro, é visual" e continua, "uma boa onomatopeia (...) está para os quadrinhos assim como um ruído (bem utilizado) está para o cinema".


Paulo Ramos no livro A leitura dos Quadrinhos define a onomatopeia da seguinte maneira: "é o uso de um termo que sintetiza a situação indicada pelo som." O autor lembra que não há uma regra para o uso e criação das onomatopeias e que o único limite seria a criatividade do artista. No entanto, também destaca que Scott McCloud em Desvendando os quadrinhos, ensina que há um processo de fixação de certos elementos na linguagem dos quadrinhos, assim quando um recurso é usado várias vezes, tende a ser incorporado à linguagem. (Exemplo, BAM! sempre indica tiro e BOOM!, explosão).


Agora, vamos ver alguns exemplos de onomatopeias:

Explosão: Bum! Kabum!

Quebra: Crack! Krak! Skrek!

Batida: Crash!

Queda na água: Splash!

Pingos de chuva: Plic! Plic! Plic!

Trovão: Cabrum! ou KRAK-A-BOOM!

Golpe ou soco: Pow! Soc!

Sono: ZZZZZZZZZZZZZZZZ!

Campainha/interfone: Ding Dong, Ring! Ring! (também serve para telefone)

Metralhadora: Rá-tá-tá-tá-tá

Beijo: Smack!

Tiro: Bang!, Blam!, Bam!, Pow!

Cavalgada: pocotó! pocotó

Vento forte: Vooosh!

Carro de polícia : EEEEEEEEEEEEEEEEOOOOHH

Raios: KKKRRAAKKK

Freio: SKREECH

Carro acelerando: VVRRRRRROOOOOMMMMMM!! ou VRUUMMMM ou Vrum-Vrum

Relógio ou cronometro: Tic-Tac ou Tique-Taque

Tosse: cof-cof

Choro: Buááá

Palmas: Clap clap


Agora, vejamos de trechos de quadrinhos em que notamos o papel das onomatopeias.


Exemplo 1: onomatopeias de tiros em Estórias Gerais de Wellington Srbek (roteiro) e Flavio Collin (arte) - editora Conrad.



Exemplo 1.2: onomatopeia de gancho fincando (SPOKK) e onomatopeias de tiros em Batman O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (roteiro e arte), Lynn Varley (cores) e Klaus Janson (arte-final) - Editora Panini

Exemplo 1.3: onomatopeias de tiros em Batman O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (roteiro e arte), Lynn Varley (cores) e Klaus Janson (arte-final) - Editora Panini

Exemplo 1.4: onomatopeia de explosão (ROOM) e onomatopeias de tiros (BUDDABUDDA) em Batman O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (roteiro e arte), Lynn Varley (cores) e Klaus Janson (arte-final) - Editora Panini


Exemplo 1.5: tiros em American Flagg de Howard Chaykin (roteiro e arte) - editora Abril Aqui, o termo Blam é repetido várias vezes e de maneira sobreposta. Isso sugere um prolongamento do som e o prolongamento indica um possível eco.

Exemplo 2: Onomatopeias de golpes em Demolidor #182 de Frank Miller (roteiro e arte) e Klaus Janson (arte-final e cores) - Editora Panini




Exemplo 2.1: onomatopeia de soco em Novos Deuses #11 por Jack Kirby (roteiro e arte) e Mike Royer (arte-final) - editora Panini

Exemplo 2.2: Onomatopeia de soco em Tex: Os Encapuzados de Giovanni Luigi Bonelli (roteiro) e Fernando Fusco (arte) - editora Mythos



Exemplo 2.3: Onomatopeia para pancada na cabeça em Tex: Os Encapuzados de Giovanni Luigi Bonelli (roteiro) e Fernando Fusco (arte) - editora Mythos


Exemplo 3: Onomatopeia de trovão e partida/corrida em Cascão Por que chove? Mauricio de Sousa produções - Editora Panini


Exemplo 4: onomatopeias para rosnado e rugido em DC: A Nova Fronteira de Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Panini




Exemplo 5: onomatopeias para explosões em DC: A Nova Fronteira de Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Panini

Exemplo 6: onomatopeia que indica quebra em DC: A Nova Fronteira de Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Panini

Exemplo 7: onomatopeia para mastigar em tirinha da Magali - Mauricio de Sousa produções.

COHMP! é bem característica de Magali e o tamanho em que grafada varia de acordo com a velocidade com que a personagem mastiga (quanto mais rápido, maior) e tamanho do alimento ingerido.



Além de representar um som, as onomatopeias exercem funções na narrativa das HQs. Vamos ver alguns exemplos disso.


Exemplo 1: História da peste por Flavio Collin (roteiro e arte) - editora Pipoca e Nanquim

Aqui, a onomatopeia (nãããoooo) vira uma linha cinética indicando a queda do personagem.



Exemplo 2: Onomatopeia indicando queda e morte em American Flagg de Howard Chaykin - Editora abril.

Aqui, o prolongamento do grito indica que o personagem está caindo e a mudança de coloração (vai ficando cada vez mais escura) na onomatopeia indica sua morte.


Exemplo 3: The Spirit por Will Eisner (roteiro e arte) - Aqui a onomatopeia de som dos passos (CRUNCH), é grafada com tamanhos diferentes e em estilo decrescente. Essa medida indica distanciamento do som e, consequentemente, movimento do personagem.


Exemplo 4: Onomatopeias funcionam como vinhetas e vice-versa, criando uma única força visual nesta página de Sin City - O Difícil Adeus de Frank Miller (roteiro e arte) - Editora Devir

Exemplo 5: Cena de Foul Play de Will Eisner - Quadrinhos e Arte Sequencial. Martins Fontes Editora. Aqui o toque do telefone é o principal acontecimento da cena. Seu tamanho avantajado transmite esta ideia e faz com que a onomatopeia praticamente interaja com o personagem.



Nos mangás, como são chamados os quadrinhos no Japão, as onomatopeias são divididas em giseigos (imitam vozes), gigongos (imitam/representam sons) e gijogos (representam emoções - como o nariz sangrando, a gotinha no canto da cabeça, a testa estourada ou olhos grandes e arregalhados). Vale lembrar, que as onomatopeias fazem parte da arte dos mangás, por isso as editoras costumam manter a onomatopeia original e colocar "traduções" no rodapé ou embaixo da própria onomatopeia.


Exemplos de onomatopeias de mangás:


Exemplo 1: gigongos em página de Nekomajin de Akira Toriyama - Editora Conrad

A editora manteve as onomatopeias com a escrita japonesa, mas coloca "traduções" para elas (bam, kablaaam e bum, respectivamente)



Exemplo 2: onomatopeias em Fullmetal Alchemist de Hiromu Arakawa - Editora JBC



Na próxima parte, falaremos sobre as emanatas!


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