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Conhecendo os quadrinhos parte 14: Breve história dos mangás II

Vamos conhecer um pouco sobre evolução dos quadrinhos japoneses!

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Quadrinhos fundo

Irasshaimase! (bem-vinda, bem-vindo, bem-vinde em japonês). Nesta segunda parte sobre história dos mangás, vamos dar continuidade ao assunto do último paragrafo da primeira parte (Clique aqui para ler Conhecendo os quadrinhos parte 13: Breve história dos mangás I).


No final do texto passado, vimos que com a chegada Período Showa (1926-1989), a temática dos mangás mudou, pois eles começaram a retratar os conflitos militares que afetavam o Japão e seu povo naquele momento.


A Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) que foi um conflito entre o Império do Japão e a República da China é o primeiro que podemos mencionar aqui, pois por causa dele, a produção dos mangás passou por alterações significativas. Primeiramente, podemos destacar que o papel impresso diminui bastante no país e, consequentemente, a quantidade de materiais publicados também diminui. Além disso, a quantidade de páginas dos encadernados caiu drasticamente. Segundo dados de Frederik L. Schodt, na obra Manga! Manga!: The World of Japanese Comics, as revistas caem de 400 para apenas 32 páginas.


Outra mudança importante está no conteúdo dos mangás. Com a guerra, muitos mangakás começaram a trabalhar para o governo, contribuindo para os esforços de guerra. Assim, surgem diversas obras voltadas para a instrução das pessoas nesse momento de conflito bélico e para a defesa dos valores e elementos culturais do Império.


Um exemplo desse período é o álbum Norakuro, de Suiho Tagawa (1899-1989). O mangá foi lançado em 1931 e durou até 1981. No período da guerra Sino-japonesa, o protagonista da história, Norakuro, um cachorro preto e branco que era inspirado no Gato Félix, lutava contra porcos, em uma clara referência à guerra contra os chineses. Estas histórias ficaram conhecidas pela grande propaganda de guerra em defesa do Império japonês. Apesar disso, alguns estudiosos defendem que a série também fazia críticas ao conflito, pois sua parte cômica evidenciava os fracassos e erros do personagem principal em seus exercícios militares.



Os quadrinhos japoneses desta época, através de seu discurso bélico, evidenciaram seu grande poder influência no público infantojuvenil. As histórias eram usadas em escolas e podiam criar um sentimento antiguerra ao um desejo de lutar contra os inimigos e defender a pátria (principalmente).


No final dos anos 1930, temos os primeiro trabalhos de Toshiko Ueda, uma das poucas mulheres que começaram suas carreiras nesta época. Seu primeiro mangá foi lançado em 1937. Suas histórias eram caracterizadas pelo humor. Ela deixa a carreira de mangaká em meados da década de 1940, mas retorna nos anos 1950 e só para com sua morte em 2008 aos 90 anos!


Depois da Guerra Sino-Japonesa, temos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que alterou o modo de vida da população japonesa. Neste momento, a produção e circulação de mangás ficou bastante escassa e as outras formas de entretenimento artístico também foram bastante prejudicadas. Em 1937, o governou proibiu a criação e circulação de revistas de entretenimento no país.


Nesse contexto de crise e Guerra, uma outra forma de narrativa visual ganhou destaque: o Kamishibai. Esta forma de contar histórias tem raízes no século XII, mas popularizou-se bastante no final da década de 1930 e na década de 1940. Esta expressão artística gerou emprego várias pessoas que ficaram conhecidas como Kamishibaiyas.


Kamishibai significa "teatro de papel". É uma espécie de teatro animado feito com recortes de papel, montagens e colagens. Esses elementos são justapostos como um filme de cenas espaçadas. São cartões ilustrados exibidos de maneira sequencializada.


Após a Segunda Guerra, o Kamishibai perdeu espaço para outras mídias como o cinema. Agora, além de substituir os mangás como forma de lazer durante a guerra, você deve estar se perguntando qual seria a relação dos Kamishibais com as histórias em quadrinhos japonesas. Então, alguns mangakás e seus personagens começaram suas carreias nos Kamishibai.


Com o final da Segunda Guerra, o Japão saiu derrotado e viu duas de suas cidades, Hiroshima e Nagasaki serem bombardeadas e totalmente devastadas por uma nova tecnologia militar: a bomba atômica. Tudo isso mexeu demais com os japoneses e o país passou por outras transformações. Dentre elas podemos destacar a entrada e influência de elementos e produções culturais do Ocidente (principalmente estadunidense) no Japão.


Nesse contexto de dominação cultural dos Estados Unidos, o mangá ressurge. Aqui, nasce o mangá moderno. (Alguns historiadores acreditam que é no pós-guerra que surgem as características estéticas e editoriais dos mangás que estamos acostumados).


As primeiras publicações desta época ficaram conhecidas como Akahon (nome de publicações de aluguel de períodos anteriores como Edo e Meiji). Os Akahon eram baratos e variavam de 16 a 36 páginas. Também ficaram conhecidos pela produção de

materiais que plagiados ou obtidos sem licença de quadrinhos estrangeiros ou de quadrinhos japoneses mais populares. Apesar disso, eles marcam o retorno dos mangás e o local de origem de futuros grandes mangakás, especialmente de Osamu Tezuka que conheceremos a seguir.


Osamu Tezuka (1928-1989) é considerado o pai do mangá moderno e é conhecido como o "Manga no Kamisama", o deus do mangá. Só por aí já dá para ter uma noção de sua relevância para o meio.


Tezuka revolucionou a indústria de mangás de várias maneiras.Ele fugiu da temática de trauma da guerra e trouxe histórias de aventura, fantasia e ficção científica. Esses temas eram muito comuns em HQs, séries de TV e no cinema estadunidense, evidenciando a presença e influência dos Estados Unidos no Japão. Aliás, o famoso mangaká incorporou muito elementos cinematográficos e das animações nos seus trabalhos.


Osamu Tezuka aumentou o número de páginas das tramas e também inovou na arte. Seus desenhos tinham cores mais sutis e uma composição mais elaborada do que os Akahon. Além disso ele começou a utilizar a sequencialidade na disposição dos quadros com mais intensidade, pausando grandes sequências em cenas pausadas. Também utilizou planos maiores, criando enquadramentos cinematográficos. Tezuka também foi o responsável por desenhar os personagens com olhos grandes, uma das características mais conhecida da estética dos mangás. Tudo isso influenciou e influencia gerações de artistas. (A inspiração dos olhos grandes veio dos desenhos animados, especialmente, Betty Boop)


Outra característica bastante marcante da arte de Tezuka que é utilizada até hoje é a ideia de reminiscência do traço. A inspiração desse fato, segundo a biografia "Osamu Tezuka: Uma Biografia Mangá", veio do teatro. Desta maneira, Tezuka via seus personagens como atores. Logo, suas características físicas apareceriam em outros personagens. (É como identificar personagens "iguais" em seus mangás por causa disso).


Esse fator auxiliava o mestre dos mangás a produzir mais em menor tempo já que reaproveitava elementos de personagens anteriores nos novos. Ele também repetia algumas cenas como transformação e roupas dos personagens nos diferentes capítulos, ganhando tempo na produção de suas histórias.


Esta reminiscência estética dos desenhos originou uma escola de produção. Com o tempo, a quantidade de pedidos de trabalhos para Tezuka cresceu bastante e ele não negava esses pedidos. Para facilitar, ele criou um estúdio com desenhistas para auxiliá-lo na produção. Os assistentes reproduziam seus desenhos e os esquemas corporais de personagens viraram padrões de produção, possibilitando a serialização dos desenhos.


Osamu Tezuka estreou em 1946 e não parou de desenhar até 1989, ano de sua morte. Ao todo, ele tem mais de 170 páginas desenhadas, 700 obras assinadas e, aproximadamente, 70 produções de animações. Seus principais trabalhos são: A Nova Ilha do Tesouro (1947), Astro Boy (1952-1968), A Princesa Cavaleiro (1953-1968), Fênix (1967-1988), Buda (1972-1983), Ayako (1972-1973) e Recado a Adolf (1983-1985), entre muitos outros.


Ainda na década de 1950, a dupla formada por Hiroshi Fujimoto (1933-1996) e Motoo Abiko (1934-2022) que assinava como Fujiko Fujio também fez sucesso. Eles trabalharam juntos de 1951 até 1987. Após se separarem, continuaram carreira solo. O primeiro adotou o nome Fujiko F. Fujio e o segundo Fujiko Fujio A.


Para encerrar o período pós segunda guerra, vale destacar a participação feminina. Assim, temos Machiko Hasegawa (1920-1992) que estreou em 1946 com obras de comédia, Masako Watanabe (1929 -) que começou ilustrando livros em 1949 e entrou no mundo dos mangás em 1952 e tornou-se mestra no gênero Shoujo (quadrinhos voltados para o público feminino adolescente/adulto), Hideko Mizuno (1939-) que aparece em 1956 sendo especialista no estilo Shoujo e Miyako Maki (1935 -) que começou em 1957 também destacando-se no Shoujo,


De um modo geral, o estilo de Tezuka era voltado para o público infantojuvenil, assim a palavra mangá virou sinônimo de coisa de criança. Nesse contexto, surge o termo Gekiga (imagens dramáticas) que foi adotado por outros artistas para referir-se a obras mais maduras e voltadas para adultos. Esse tipo de publicação ganhou força no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Uma série voltada para público adulto que se destacou foi Lobo Solitário de Kazuo Koike (roteiro) e Goseki Kojima (arte) que foi publicada de 1970 a 1976.


Na década de 1970 surge o grupo do ano 24 que inova o Shoujo Manga (mangá para meninas). O grupo incluía mulheres mangakás nascidas em 1949 (ano 24 da era Showa, daí o nome). Aqui, podemos mencionar  Moto Hagio,  Keiko Takemiya, Riyoko Ikeda, Suze Miuchi, Yumiko Igarashi e Kyoko Mizuki.


Nos anos 1970, as mulheres começam a se destacar com abordagens femininas em estilos de mangá que eram abordados apenas por homens como ficção científica e aventura. Elas trouxeram novas abordagens e conquistaram mais leitores.


Na década de 1980 ocorreu a explosão do mangá no Japão e começo da circulação do quadrinho japonês pelo mundo. Nesses anos, o número de pessoas produzindo mangás cresceu vertiginosamente e, por consequência, os lançamentos também aumentaram.


Os mangás tornaram-se um grande e importante fenômeno social. Eles ganharam uma grande diversidade de temas como culinária, esporte, religião, ação, aventura, erótico, terror, entre outros. Além disso, segmentaram-se para públicos específicos com base em faixa etária, sexo, categoria social e profissão.


As décadas de 1980 e 1990 marcam o surgimento de grandes franquias como Dragon Ball (1984) de Akira Toriyama, Os Cavaleiros do Zodíaco (1985) de Masakami Kurumada, Samurai X (1994) de Nobuhiro Watsuki e One Piece (1997) de Eiichiro Oda. Também vemos o crescimento do gênero Magical Girl como exemplo temos Sailor Moon (1991-1997) de Naoko Takeuchi.


Acredito que os mangás dos anos 2000 e da década de 2010 podem ficar para um outro momento da série Conhecendo os Quadrinhos. Até lá!


Texto produzido com base no material didático sobre mangás da especialização em Histórias em Quadrinhos da Faculdades EST de autoria de Amaro Xavier Braga Júnior, no material didático sobre quadrinhos e questões de gênero e sexualidade da mesma instituição com autoria de Daniela dos Santos Domingues Marino e em textos do site Shoujo café.














































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