Vamos conhecer um pouco mais sobre enquadramento e angulação
Por: Iuri Biagioni Rodrigues
Na semana passada, vimos algumas informações importantes sobre as vinhetas. Agora, vamos ver que as imagens que estão dentro delas podem ser representadas através de certos enquadramentos ou planos. Além disso, esses planos podem ser tomados de diferentes angulações. Dito isso, passemos logo ao assunto.
Os enquadramentos
Os enquadramentos presentes nos quadrinhos são os mesmos da fotografia, do cinema e da televisão. Como lembra Daniele Barbieri (livro "As Linguagens dos Quadrinhos"), eles foram classificados e denominados de acordo com a distância que captam de seu objeto. Assim, temos planos que captam espaços mais amplos, outros que captam a figura humana em sua totalidade e outros apenas alguma parte. (Vamos conhecer os principais tipos).
As terminologias e os exemplos são baseados nas obras de Barbieri ("As Linguagens dos Quadrinhos"), Waldomiro Vergueiro (Como "Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula") e Paulo Ramos ("A Leitura dos Quadrinhos").
Plano geral ou panorâmico
É o plano que capta a imagem de maneira mais distante, e, portanto, é mais amplo. Nele, as figuras humanas aparecem muito distantes ou um pouco mais próximas, mas sempre muito menores que o restante da imagem.
O uso desse plano tem como finalidade destacar o conjunto de uma situação ou para mostrar o ambiente que está a volta de uma maneira mais detalhada. Assim, o foco está no cenário.
Exemplo 1: plano geral em página dupla de A Idade de Ouro de Cyril Pedrosa (roteiro, arte e cores) e Roxanne Moreil (roteiro) - Editora Nemo
Exemplo 2: Plano geral em uma vinheta de Tex O Profeta IndÃgena de Claudio Nizzi e Corrado Mastantuono (arte) - Editora Salvat
Plano total ou de conjunto
Aqui, a(s) figura(s) humana(s) aparece(m) de corpo inteiro e de maneira mais próxima. O ambiente não tem tanto destaque, o cenário é o menor possÃvel, pois o foco é o personagem. Essa é a diferença entre o plano de conjunto e o plano geral.
Exemplo 1: página inteira de DC: A Nova fronteira por Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Panini
Exemplo 2: vinheta de Mulher-Maravilha: A Verdadeira Amazona por Jill Thompson (roteiro e arte) - Editora Panini
Plano médio
Neste plano, a figura humana adquire uma dimensão significativa em relação à altura da imagem. Aqui, vemos os personagens da cintura para cima. Esse tipo de enquadramento faz com que tenhamos uma visão mais clara da fisionomia e expressões faciais dos personagens. É muito utilizado em cenas de diálogo.
Exemplo 1: cena de diálogo entre Homem-Aranha e Doutor Estranho em Homem-Aranha Até que as Estrelas Esfriem de John Michael Straczynscki (roteiro), John Romita Jr. (arte), Scott Hanna (arte-final) e Dan Kemp (cores) - Editora Panini
Exemplo 2: cena de diálogo entre Art Spielgelman e Vladek em Maus por Art Spielgelman (roteiro e arte) - Editora Companhia das Letras (selo Quadrinhos na Cia.)
Plano americano
Neste plano, a figura humana é recortada na altura dos joelhos. É baseado na ideia de que, em uma conversa normal, nossa percepção de com quem estamos falando dilui a partir desse ponto do corpo humano.
Exemplo 1: vinhetas de Denise Arraso por Cora Ottoni (roteiro, arte e cores) - Editora Panini
Exemplo 2: vinheta de Conan E Os Hinos dos Mortos por Joe R. Lansdale (roteiro), Timothy Truman (arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Mythos
Primeiro Plano
Este plano recorta a figura humana na altura do peito (ombros). O foco e a expressão do personagem e seu estado emocional.
Exemplo 1: primeiro plano em quadro de Os 300 de Esparta de Frank Miller (roteiro e arte) e Lynn Varley (cores) - Editora Devir
Exemplo 2: vinheta de DC: A Nova Fronteira por Darwyn Cooke (roteiro e arte) e Dave Stewart (cores) - Editora Panini
PrimeirÃssimo plano
Neste plano, somente o rosto da pessoa é enquadrado.
Exemplo 1: sequência de vinhetas de Persépolis de Marjane Satrapi (roteiro e arte) - Editora Companhia das Letras (selo Quadrinhos na Cia.)
Exemplo 2: vinhetas de Dragon Ball Super por Akira Toryama (argumento) e Toyotaro (roteiro e arte)
Plano detalhe ou Close-up
Enquadra somente uma pequena parte especÃfica. Pode ser uma mão, um olho ou um objeto.
Exemplo 1: quadro de Batman A Piada Mortal de Alan Moore (roteiro) e Brian Bolland (arte e cores)
Exemplo 2: vinheta de Avante Vingadores por Brian Michael Bendis (roteiro), Mark Bagley (arte), Danny Miki (arte-final) e Paul Mounts (cores) - Editora Salvat
Os ângulos de vista
Os enquadramentos vistos acima podem ser tomados sobre angulações diferentes. É isso que chamamos de ângulo de visão, ou seja, é o ponto a partir do qual a cena é observada. vejamos cada um deles:
Angulação horizontal ou ângulo de visão médio
É o caso mais comum e frequente. Aqui, vemos a imagem do ponto de vista de quem observa e representa a cena. Está aproximadamente à mesma altura daquilo que é enquadrado.
Exemplo 1: vinheta de Contos dos Orixás por Hugo Canuto (roteiro, arte e cores) - Lançamento independente
Exemplo 2: vinheta de Contos dos Orixás por Hugo Canuto (roteiro, arte e cores) - Lançamento independente
Angulação de visão superior ou plongé ou picado
É a visão de cima para baixo.
Exemplo 1: quadro de Homem-Aranha Revelações por John Michael Straczynscki (roteiro), John Romita Jr. (arte), Scott Hanna (arte-final) e Dan Kemp (cores) - Editora Panini
Exemplo 2: vinheta de Klaus por Grant Morrison (roteiro) e Dan Mora (arte e cores) - Editora Devir
Angulação de visão inferior ou contra-plongé ou contrapicado
Vemos a imagem de baixo para cima.
Exemplo 1: cena de Batman - O Cavaleiro das Trevas por Frank Miller (roteiro e arte), Kalus Janson (arte-final) e Lynn Varley (cores) - Editora Panini
Exemplo 2: página de Demolidor O Homem Sem Medo por Frank Miller (roteiro), John Romita Jr. (arte)
Obs: Podemos ter angulações de cima para baixo ou de baixo para cima que sejam oblÃquas ou verticais (como ruas vistas do alto de um arranha-céu visto ou o arranha-céu visto da rua por uma pessoa que esteja olhando para cima).
Na próxima semana, falaremos sobre layout de página. Até lá!