Crítica: "Nickel Boys" (2024)
- Igor Biagioni Rodrigues
- 2 de mar.
- 2 min de leitura
POV
Por Igor Biagioni Rodrigues.

"Nickel Boys" é a adaptação de um livro homônimo escrito por Colson Whitehead, obra vencedora do Pulitzer. A trama conta a história de como o jovem Elwood (Ethan Herisse) vai parar injustamente no violento reformatório Nickel, onde conhece Turner (Brandon Wilson), um jovem rebelde e contrário ao sistema. Lá, os dois criam laços e aprendem um com o outro sobre esperança e luta.
Filme e livro retratam uma realidade perturbadora da história dos Estados Unidos: a violência institucionalizada que ocorria em reformatórios. De forma experimental, o diretor RaMell Ross conta uma história dramática e muito emotiva que se passa durante os anos 1960, uma época marcada pelo movimento em defesa dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Apesar da mensagem e da temática importantes, o que faz esse filme se destacar é sua experimentação visual: o filme utiliza a câmera subjetiva, em que a câmera filma de um ponto de vista pessoal dos personagens (o famoso POV – point of view) e inserções de arquivos (fotos e vídeos reais de reformatórios e de discursos de Martin Luther King) ao longo da narrativa. Um dos planos mais inteligentes e bonitos da película é uma sequência em que Elwood e Turner estão abraçados, olhando para cima em um telhado espelhado, plano esse que foi muito bem utilizado no marketing do filme.
Durante boa parte do filme, o rosto do protagonista é ocultado, fazendo com que o espectador crie uma identificação com ele. Outro aspecto interessante dessa escolha é o fato de que a violência quase nunca é mostrada, mas sim sugerida, o que muitas vezes torna as situações mais tensas para os personagens e, consequentemente, para nós, espectadores. Apesar da ideia intrigante de filmar o longa com uma câmera subjetiva em primeira pessoa, devido à sua duração, a experiência se torna cansativa por volta da metade do filme.

Ao optar por esse tipo de enquadramento, que alterna entre as visões dos personagens principais (Elwood e Turner), o diretor nos faz ver literalmente o ponto de vista de dois jovens que, apesar de amigos, são muito diferentes. É interessante observar a visão que cada um possui da vida, do futuro e das instituições sociais, sejam elas a família, a escola ou até mesmo o governo.
Essa utilização do POV só muda quando ocorrem flashforwards (interrupção de uma sequência cronológica narrativa pela interpolação de eventos ocorridos posteriormente), com o intuito de criar um mistério que será revelado ao final do filme. Esse mistério, no entanto, considero um dos pontos fracos do longa, uma vez que a revelação ocorre de maneira abrupta e escrachada.
Em suma, grande parte da força de Nickel Boys está na maneira como o filme trata o tema que aborda, utilizando a subjetividade para humanizar as inúmeras pessoas que foram machucadas e até mesmo mortas por esse passado de opressão, preconceito e dor.
Para quem só se importa com números:
Nota- 7/10.
Ficha Técnica:
Título original: Nickel Boys
País de origem: Estados Unidos
Roteiristas: RaMell Ross e Joslyn Barnes, baseado no romance de Colson Whitehead
Direção: RaMell Ross
Classificação: 14 anos
Duração: 140 min.
Elenco:
Ethan Herisse como Elwood Curtis
Brandon Wilson como Turner
Sam Malone como Percy
Najah Bradley como Evelyn
Aunjanue Ellis-Taylor como Hattie
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