Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo (2025)
- Igor Biagioni Rodrigues
- 20 de fev.
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de fev.
Um filme sem alma...
Por Igor Biagioni Rodrigues.

"Capitão América: Admirável Mundo Novo" é o quarto filme do herói, o primeiro com Sam Wilson (Anthony Mackie) vestindo o traje e também o primeiro longa do MCU (Universo Cinematográfico Marvel) em 2025. Desde o fim da Saga do Infinito, com o lançamento de "Vingadores: Ultimato", a Marvel vem encontrando bastante dificuldade em traçar um novo rumo à altura de seu passado de sucesso. Claro que houve produções de grande qualidade por parte do estúdio desde o fim da Saga do Infinito (principalmente no ano de 2021), mas, à medida que a Marvel aumentava a quantidade de produções, a qualidade – e, consequentemente, o sucesso delas – foi decaindo. Era esperado que, após esses “erros”, o estúdio repensasse seu planejamento, e foi o que aconteceu, pelo menos por um breve período. "Deadpool e Wolverine" foi o único filme do estúdio em 2024 e serviu como um respiro, utilizando-se da nostalgia (como sempre) para abafar as críticas. Mas parece que a Marvel não aprendeu com seu passado extremamente recente e, em 2025, lançará mais dois filmes além deste sobre o qual dissertarei mais à frente. Porém, "Capitão América: Admirável Mundo Novo" prometia voltar às raízes, com uma trama mais centrada, envolvendo política e debatendo as consequências dos últimos acontecimentos do MCU, deixando um pouco de lado o já desgastado multiverso. Mas será que funcionou? A resposta é um estridente “Não!”.

Após anos como um violento general, Thunderbolt Ross, agora presidente, tenta se provar para o país – e principalmente para sua filha – por meio de um acordo internacional envolvendo um novo minério (sim, o Adamantium). Porém, um atentado terrorista põe tudo a perder, e Sam Wilson, o Capitão América, se vê envolto em um complô que pode desembocar em uma guerra.
O longa passou por diversas reescritas (são creditados cinco roteiristas, mas provavelmente há mais) e regravações, o que fez com que a película virasse uma colcha de retalhos. E isso é perceptível dentro da obra, seja pelo claro uso de chroma key em algumas cenas, que provavelmente foram feitas às pressas, seja pelo próprio sentido narrativo, que fica fragilizado diante dos vários remendos que a história dá para que tudo caiba.
Várias ideias são jogadas, mas não se desenvolvem. O mesmo acontece com personagens, vide Seth Voelker (sim, desperdiçaram Giancarlo Esposito). O ator é excelente, e até aí nenhuma surpresa (não que também seja surpresa a Marvel Studios desperdiçar atores desse nível), mas é nítido que sua participação no filme é fruto das refilmagens: ele aparece rapidamente, parece deslocado e, à medida que o filme avança, é praticamente esquecido. O mesmo acontece com Ruth Bat-Seraph (Shira Haas). Sinceramente, ela não faz diferença nenhuma na trama, e praticamente nada mudaria se não existisse. Sem contar que, apesar da cena do Hulk Vermelho ser divertida e seu CGI ser o melhor do filme, fica aparente que utilizaram esse elemento apenas pelo marketing associado à figura de Harrison Ford, que agora está na Marvel: “Olhem só! O Harrison Ford está na Marvel!”, como uma estratégia para vender e validar a produção.

Além disso, o filme soa como uma continuação extremamente tardia de "O Incrível Hulk" (2008) e de "Falcão e o Soldado Invernal" (2021), tudo isso somado ao fato de que tenta simular "Soldado Invernal" (2014) e "Guerra Civil "(2016), além de finalmente trazer respostas aos acontecimentos de "Eternos" (2021). Mas por que “infelizmente”? Porque a série de 2021, que sim, possui bastantes problemas, faz bem mais pelo desenvolvimento de Sam Wilson do que este filme. A questão de se aceitar como o novo Capitão América, o peso disso, além da construção de seu relacionamento com Isaiah Bradley, são muito melhor trabalhados na série do Disney +. Aqui, a história não atrai e muito menos serve como um desenvolvimento digno para o personagem de Mackie. Querem um exemplo de como esse filme falha em nos fazer sentir algo pelo Sam? Joaquin Torres (Danny Ramirez) fica o tempo todo dizendo o que deveríamos sentir por ele: admiração, orgulho, vontade de ser como ele etc.
Repararam que até agora não falei do vilão? Isso porque ele parece escanteado em uma trama na qual deveria ser um dos personagens mais relevantes. O problema de criar personagens inteligentes é que os roteiristas também devem ser inteligentes. A ideia da trama política e da possível guerra por um desentendimento é boa. A forma como Ross chega ao poder é interessante, mas nunca trabalhada – apenas dita –, como muita coisa nos filmes da Marvel, que se fecham em seu próprio mundinho.

O filme não se arrisca muito e, por isso, pode agradar algumas pessoas. Mas esse também é um dos motivos pelos quais ele não sai de uma mesmice que demonstra como a Marvel está cada vez mais perdida dentro da cultura pop. Isso é até estranho de se pensar, pois seu universo cinematográfico foi responsável por alavancar ainda mais (principalmente comercialmente falando) a cultura pop a níveis estratosféricos difíceis de se imaginar tempos atrás.
É claro que nem tudo é de se desperdiçar. Anthony Mackie e Harrison Ford estão bem em seus respectivos papéis, mas não conseguem sustentar uma trama que, com todo respeito, parece ter sido feita no automático só para cumprir um calendário de lançamentos.
Vocês devem estar pensando: “Mas, Igor, você está querendo profundidade em um ‘filme de boneco’! É só um filminho baseado em personagens de histórias em quadrinhos de super-heróis”. É que eu acredito que esses filmes e esses personagens têm o potencial de gerar histórias mais relevantes (sem perder o quesito diversão) além do mero entretenimento barato – ainda mais devido ao fato de dialogarem com um público muito grande –, para que deixem de ser chamados pejorativamente de “filmes de boneco”. É… talvez o erro seja meu mesmo. E sim, o longa parece um quadrinho. É parecido com aquela revista mensal que você compra, lê enquanto espera ser atendido no dentista ou algo do tipo, depois guarda e esquece que tem.

Cena pós-crédito desta crítica: a cena pós-créditos do filme também é vergonhosa e apela para um futuro que nos desanima cada vez mais.
Para quem só se importa com números:
Nota- 5/10.
Ficha técnica:
Título original: Captain America: Brave New World
País de Origem: Estados Unidos
Roteiro: Rob Edwards, Malcolm Spellman, Dalan Musson, Julius Onah, Peter Glanz
Direção: Julius Onah
Classificação: 14 anos
Duração: 118 min.
Elenco:
Anthony Mackie como Sam Wilson / Capitão América
Harrison Ford como Thaddeus "Thunderbolt" Ross
Danny Ramirez como Joaquin Torres / Falcão
Shira Haas como Ruth Bat-Seraph / Sabra
Tim Blake Nelson como Samuel Sterns
Liv Tyler como Betty Ross
Carl Lumbly como Isaiah Bradley
Xosha Roquemore como Agente Leila Taylor
Giancarlo Esposito como Seth Voelker / Víbora
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