Crítica: "As Marvels" (2023)
- Igor Biagioni Rodrigues
- 21 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2023
Não foi mais alto, mais longe, nem mais veloz...apenas mais medíocre.
Por Igor Biagioni Rodrigues
Antes de falar propriamente sobre o filme, gostaria de fazer um pequeno comentário. Um ódio injusto e desnecessário foi criado em torno de Brie Larson, e somado a esse ódio vem, de maneira extremamente forte, a misoginia presente no meio nerd. Com isso, foi criada uma enorme torcida pelo flop (o termo vem do inglês e se popularizou em redes sociais para se referir a conteúdos que geram pouco alcance de público) do longa por causa de sua "lacração". Um termo utilizado por pessoas preconceituosas para disseminar suas palavras de ódio. Sinceramente, não consigo entender esse tipo de ação. Torcer para que um filme não tenha sucesso ou não tenha lucro porque o fato de ele ser protagonizado por três mulheres te machuca?
Enfim, é fato que o filme não tem feito sucesso, mas isso está longe de acontecer por ele ser "lacrador" (outro adendo é que, levando em conta que essa palavra é utilizada para se referir pejorativamente a pessoas ou obras que são dedicadas a causas e pautas sociais, o filme nem faz isso). "As Marvels" teve uma péssima forma de distribuição (esse período aconteceu durante a greve do sindicato dos atores), foi lançado numa época saturada de filmes e conteúdos de super-heróis e, por último... pelo fato do filme ser fraco mesmo.
O longa conta a história de Carol Danvers (Brie Larson) após recuperar sua identidade dos Kree e derrotar a Inteligência Suprema. Nisto, as obrigações da protagonista fazem com que ela vá até uma fenda espacial anômala ligada a uma revolucionária Kree. Ao tocar nessa fenda, seus poderes se entrelaçam aos de Kamala Khan, a Ms. Marvel, e aos da sua sobrinha, Monica Rambeau. Juntas, elas precisarão se unir e aprender a trabalhar em conjunto para salvar o universo da ameaça de Dar-Benn.
A premissa segue uma fórmula batida que a Marvel tenta enfiar goela abaixo do espectador há quase quinze anos. A película não traz nenhuma emoção, seja boa ou ruim; é um filme genérico e engessado, sendo um verdadeiro produto industrial.
"As Marvels" é a junção de personagens e acontecimentos de filmes como "Capitã Marvel" (2019) e das séries "WandaVision" (2021), "Miss Marvel" (2022) e "Invasão Secreta"(2023) - por mais que esta última seja totalmente ignorada, ainda bem?-Isso é um caminho novo no MCU, uma vez que as outras séries não afetaram os filmes, seja por decisões criativas ou pelo simples fato de serem totalmente desconsideradas (vide a relação de "WandaVision" com "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura"). E essa ligação foi feita de maneira bem falha, através de diálogos rápidos e frases/piadas jogadas de forma despretensiosa para o espectador que não consumiu os materiais anteriores simplesmente aceitar.
O filme é rápido, e isso deveria ser bom para um blockbuster (filmes 'arrasa-quarteirões' de grandes empresas, com orçamentos gigantes), uma vez que tem se tornado uma moda irritante esses filmes terem mais de duas horas. Mas aqui era necessário um maior trabalho no desenvolvimento das personagens para que as situações fossem mais palatáveis e os personagens gerassem mais ligação com o público que não viu as séries (olha aí a Marvel se tornando aquilo que tanto critico nos quadrinhos: dependente de conteúdos anteriores para se consumir algo novo).
Falando sobre o trio principal, Brie Larson, Teyonah Parris e Iman Vellani, trazem uma representação bem singela, mas agradável de suas personagens, e quando estão juntas é difícil não gostar de suas relações de 'mestra', 'discípula' e 'fã'. No entanto, apesar da química entre as três personagens ser realmente divertida e interessante, ela é desperdiçada pois o longa decide focar em uma história qualquer de uma vilã esquecível.
Em relação a aspectos técnicos, a direção de Nia DaCosta é quase invisível, não se percebe o tom da diretora diante de uma história que tem que se interligar a inúmeros acontecimentos passados e futuros enquanto, em si mesma, não acontece nada devido ao seu roteiro limitado e confuso e que se contenta em se explicar e resolver furos através de diálogos e comentários sobre uma pseudo ciência diante dos acontecimentos.
Outros pontos fracos do filme são a Direção de Arte, que é tenebrosa, com figurinos deprimentes e cenários genéricos; o CGI (computação gráfica), que é indiferente e a montagem, que é confusa (principalmente em cenas de luta).
Em relação ao humor, ele está no ponto da Marvel lá de sua primeira fase, o que não seria ruim se já não fosse tão cansativo (pode ter entregado uma cena musical gratuita, mas também entregou uma divertida cena ao som de uma música de 'Cats', 'Memory').
Em suma, "As Marvels" é mais um filme fruto de uma fórmula esgotada, que tenta se vender como um longa menor e engraçado, com o mero propósito do divertimento dentro de um caos narrativo. E que se apoia em uma cena pós-créditos na cansativa esperança de que o futuro dos filmes da Marvel será melhor.
Para quem só se importa com números:
Nota-5/10.
Ficha técnica:
País de Origem: Estados Unidos
Título Original: The Marvels
Roteiro: Nia DaCosta, Megan McDonnell, Elissa Karasik
Direção: Nia DaCosta
Classificação: 12 anos
Duração: 105 minutos
Elenco:
Brie Larson como Carol Danvers/Capitã Marvel
Teyonah Parris como Monica Rambeau
Iman Vellani como Kamala Khan/Miss Marvel
Zawe Ashton como Dar-Benn
Gary Lewis como Imperador Dro'ge
Park Seo-Joon como Príncipe Yan
Zenobia Shroff como Muneeba Khan
Mohan Kapur como Yusuf Khan
Saagar Shaikh como Aamir Khan
Samuel L. Jackson como Nick Fury
Comentários