Crítica | Demolidor: Renascido – 1X09: Direto para o Inferno
- Igor Biagioni Rodrigues
- 30 de abr.
- 4 min de leitura
O renascimento do Justiceiro e a Via Sacra da mediocridade.
Por Igor Biagioni Rodrigues.

No final do texto do episódio anterior, eu escrevi que apenas um milagre salvaria esta série. Então… não aconteceu. Nada funciona, narrativamente falando, neste episódio. Explicações são jogadas em tela e o espectador tem que simplesmente aceitar. Inicia-se com aquele flashback para explicar como e por que Vanessa contratou o Mercenário para matar Foggy. Depois dos acontecimentos do final da terceira temporada da Netflix, ver o Mercenário reatando laços, não com Fisk, mas com alguém próximo dele, e o próprio fato de que Wilson Fisk não foi preso após ser derrotado pelo Demolidor e conseguiu chegar à prefeitura de Nova York com direito a Força-Tarefa Anti-Vigilante e tudo mais, dariam pano para a manga de uns bons episódios. Mas não, tudo é jogado em tela com um simples e forçado flashback.
Logo depois, temos o plano de Wilson Fisk de cortar a luz da cidade, somado à fuga do Mercenário, criando um caos em que sua polícia particular possa agir pela cidade. (O que foi aquele diálogo em que um policial mata um jovem, abaixa a touca no rosto dele e diz “ele era um vigilante”?) A partir disso, Fisk pode declarar Lei Marcial na cidade, mais um aspecto empurrado à força para que aceitemos. Além disso, causar um corte de luz na cidade não facilita o assassinato de uma pessoa cega, que se sabe ter todos os outros sentidos aguçados. Mas tudo bem simplesmente martelar esses fatos na cabeça do espectador. (Alerta! Esta frase contém altíssimas doses de ironia), pois a produção vai te “presentear” com a volta do Justiceiro, que simplesmente aparece no apartamento de Murdock. Certo, isso ajuda a dar credibilidade ao fato de que o Demolidor realmente não daria conta de um esquadrão altamente armado sozinho, horas depois de ter levado um tiro no ombro. Bom… Justiceiro e Demolidor juntos… Pelo menos teremos uma cena de luta brutal e bem coreografada como era na Netflix, certo? Errado! A cena de luta é confusa e opta por um uso totalmente desnecessário e desbalanceado de slow motion, sem contar que Frank Castle agora utiliza com frequência armas brancas. Enxergo isso como algo que a série tem feito com recorrência: aumentar as cenas de violência, deixando-as mais brutais e supostamente impactantes, apenas para disfarçar os inúmeros problemas narrativos que possui (um exemplo neste episódio é o assassinato do Comissário).
Se já não bastasse tudo isso, quem ligou para Frank e também retornou do nada? Sim, Karen Page! Isso traz uma questão interessante: no pouco tempo de tela que Karen possui, ela consegue ter mais relevância do que todos os outros coadjuvantes que apareceram durante toda a temporada. Claro que seu desenvolvimento nas temporadas anteriores ajuda, mas é uma pena que a série apresente vários coadjuvantes que, diferentemente dos da Netflix, não conseguem sustentar a série quando os holofotes estão voltados para eles. Sobrando apenas para o Demolidor de Charlie Cox e o Rei do Crime de Vincent D’Onofrio carregarem toda a produção nas costas. O Justiceiro é outro que rouba a cena quando aparece, da sequência no apartamento até o ataque suicida contra a Força Anti-Vigilante de Fisk. Aliás, é um episódio com bastante enfoque em Castle. Entendo que já há um intuito de criar uma expectativa para o especial do anti-herói (?), mas apenas a cena pós-créditos, com a escapada dele da prisão de Fisk graças à ingenuidade de Anthony Petruccio, já bastaria.
O episódio termina com o Demolidor no que um dia já foi o bar da Josie, juntando um exército de personagens de que ninguém se importa. Finaliza-se a temporada prometendo tudo e mais um pouco em sua futura continuação (até mesmo a redenção do Mercenário, pelo jeito…) No entanto, o final do Rei do Crime e de Vanessa é bem interessante, com eles jantando e brindando diante do quadro em branco manchado de sangue ao fundo, remetendo não somente ao seu primeiro encontro, mas também à pior derrota de Fisk pelas mãos de Matt.

A questão que quero trazer é que a produção, seja pelas regravações ou qualquer outro fator (mas até quando vão usar isso como desculpa?), possui boas ideias e um excelente potencial que, infelizmente, não são bem explorados, e as ideias não são executadas de maneira inteligente. A série se perde demais na tentativa de ser mais como a da Netflix (isso ocorre por causa dos inserts após Kevin Feige, vulgo Zé do Boné, pedir por mudanças) e de ser aquilo que era inicialmente. Por isso, ficamos com essa sensação de que a série não tem identidade. Não se decide se será episódica ou se trabalhará melhor a história maior, desperdiçando tramas e personagens que poderiam render muito mais.
Como disse, a série possui bons momentos, muitos graças ao paralelismo criado entre o Demolidor e Wilson Fisk, e a decisões técnicas nas representações dos poderes de Murdock. A série sabia onde queria começar e onde queria chegar ao final, mas todo o caminho entre o ponto A e o ponto B é complicado. Eu acredito que o Demolidor e todo o seu universo são extremamente ricos (o melhor da Marvel, ouso dizer) e têm um potencial bem maior do que ficar nessa cruzada sanguinária do personagem, que fica sempre indo da negação à aceitação de seu chamado quase religioso para defender Nova York. Enfim, aguardemos (de maneira nada ansiosa) pelo segundo ano da produção, torcendo para que ela saia do poço da mediocridade, que, diferente de Matt, eu só acreditarei vendo.
Para quem só se importa com números:
Nota- 3/10.
Ficha Técnica:
Título Original: Daredevil: Born Again 1X09: Straight to Hell
País de Origem: Estados Unidos
Showrunner: Dario Scardapane
Roteiro: Heather Bellson, Dario Scardapane
Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
Classificação: 18 anos.
Duração: 59 min.
Elenco:
Charlie Cox,
Vincent D’Onofrio
Jon Bernthal
Margarita Levieva
Zabryna Guevara
Nikki M. James
Genneya Walton
Arty Froushan
Michael Gandolfini
Clark Johnson
Ayelet Zurer
Michael Gaston
Hamish Allan-Headley
Lou Taylor Pucci
Tony Dalton
Deborah Ann Woll
Wilson Bethel