Crítica | Depois de Horas (1985)
- Igor Biagioni Rodrigues

- há 18 minutos
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Homem médio VS o Underground
Por Igor Biagioni Rodrigues.

"After Hours" é uma das obras "escondidas" da vasta carreira de Scorsese, mas tão boa quanto qualquer um de seus clássicos. No longa, acompanhamos Paul Hackett, um operador de computadores que, entediado com sua monótona rotina, decide ir a um café em Manhattan. No local, ele conhece a enigmática e atraente Marcy. Mais tarde, ela o convida para visitá-la no apartamento de uma amiga, localizado no centro da cidade. Porém, tudo começa a dar errado quando uma nota de 20 dólares escapa pela janela do táxi, impedindo-o de pagar a corrida. A partir daí, Paul enfrenta uma sequência de eventos absurdamente estranhos, embaraçosos e perigosos ao longo da noite, enquanto tenta desesperadamente encontrar um caminho de volta para casa.
Estamos acostumados a ver filmes de Scorsese em que ele retrata a podridão humana e os ambientes em que as pessoas vivem quase como se fossem personagens da história, e é neste longa que isso se evidencia de maneira mais marcante. Nova York, especificamente o bairro de Soho e todo seu universo subversivo, ganha vida na noite neste divertido e surreal filme.

Martin Scorsese transforma a noite de Manhattan em um personagem por si só. O bairro de Soho, com seu submundo de bares, clubes e artistas, ganha vida em planos longos e ângulos que intensificam a sensação de isolamento e claustrofobia de Paul Hackett. A direção de Scorsese equilibra com maestria comédia, suspense e surrealismo, enquanto a cidade se revela ao mesmo tempo fascinante e ameaçadora. A trilha sonora, repleta de jazz e efeitos sonoros que reforçam o caos noturno, acompanha o ritmo frenético da narrativa e amplifica a tensão de cada situação absurda e inesperada que o protagonista enfrenta. Além disso, a montagem bruta de Thelma Schoonmaker retrata muito bem os momentos de desejo carnal de Paul, a sua fadiga e constrangimento.
De maneira muito assertiva, o filme utiliza a comédia nonsense e o surrealismo para fazer uma crítica ao homem branco médio por meio do estudo de personagem de Paul. O longa funciona como uma reflexão sobre a alienação do homem médio, retratando Paul como um indivíduo acostumado a uma vida ordinária e previsível, que se vê confrontado por um mundo subversivo que desafia suas expectativas. O desejo do personagem por aventura e liberdade colide com a realidade complexa ao seu redor, e sua incapacidade de compreender o que o rodeia é explorada com humor e ironia. Ao mesmo tempo, After Hours mostra que o amor e a conexão humana estão presentes mesmo nos lugares mais inesperados. A noite se torna uma metáfora para a confrontação do desconhecido e da própria mediocridade do protagonista.

Cansado de sua rotina, tudo o que Paul deseja é viver uma noite de aventuras, que parecia promissora ao conhecer Marcy. O desejo carnal do protagonista é quase palpável, mas o ambiente à sua volta é mais complexo do que ele. Ao conhecer Kiki, a amiga artista da garota que ele conheceu na lanchonete, ela está semi-nua, e ele se oferece para fazer uma massagem. Enquanto a faz, Paul conta uma história; aquilo que para ele era sedução, para Kiki é apenas algo neutro, e ela adormece ouvindo sua narrativa. Ao finalmente encontrar Marcy, ele pensa que seus desejos vão se realizar, mas Marcy busca apenas companhia, não necessariamente sexo. Desesperado com os absurdos que ocorrem durante sua noite, Paul não percebe que existe amor ao seu redor: em um bar, dois homens se beijam enquanto ele reclama das situações que enfrenta, e até mesmo quando tem a possibilidade de realizar seus desejos em uma boate, ele se recusa, pois não quer que cortem seu cabelo no estilo moicano.
O longa retrata um homem medíocre, acostumado a uma vida ordinária, que, ao se encontrar em um lugar subversivo e totalmente diferente do que conhece, só deseja voltar para seu casulo, pois aquele mundo pode ser monótono, mas pelo menos ele o conhece.
Para quem só se importa com números:
Nota- 8/10.
Ficha Técnica:
Título Original: After Hours
País de Origem: Estados Unidos
Roteiro: Joseph Minion
Direção: Martin Scorsese
Classificação: 16 anos
Duração: 97 min.
Elenco:
Griffin Dunne como Paul Hackett
Rosanna Arquette como Marcy Franklin
Verna Bloom como June
Tommy Chong como Pepe
Linda Fiorentino como Kiki Bridges
Teri Garr como Julie
John Heard como Tom the Bartender
Cheech Marin como Neil
Catherine O’Hara como Gail
Will Patton como Horst







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