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Crítica | Frankenstein (1931)

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • 28 de out.
  • 3 min de leitura

Pode um homem se igualar a Deus?

Por Igor Biagioni Rodrigues.

Frankenstein 1931
"Frankenstein" (1931)- Universal Pictures/Reprodução

O horror/terror como gênero narrativo surge para simbolizar e emular os medos e anseios da humanidade e da sociedade. Seja na literatura ou no cinema; vide suas raízes no Expressionismo Alemão, uma vanguarda que nasceu em uma Alemanha destruída e desmoralizada pela Primeira Guerra Mundial; o gênero sempre refletiu os temores e crises de seu tempo.


Mary Shelley escreveu o romance gótico Frankenstein no início do século XIX, uma época de descobertas e grande efervescência científica e filosófica. Entre as influências da época estavam o galvanismo (geração de corrente elétrica por meio de reações químicas e sua aplicação para estimular tecidos biológicos, como músculos e nervos) e o Iluminismo, movimento filosófico centrado na razão e no homem, com o intuito de compreender o mundo racionalmente. Já o filme foi lançado em um período entre guerras, carregando também as tensões de seu próprio contexto histórico.


Baseado no livro de Shelley e em uma peça teatral, o longa conta a história de Henry Frankenstein (Colin Clive), um cientista obcecado por ultrapassar os limites entre a vida e a morte. Ele passa as noites vagando por cemitérios ao lado de seu assistente, o corcunda Fritz (Dwight Frye), recolhendo partes de corpos para montar um ser humano completo. Para concluir sua criação, Frankenstein precisa de um cérebro e envia Fritz a uma universidade próxima para buscá-lo. No entanto, durante a missão, o assistente acidentalmente quebra o frasco que continha um cérebro saudável e, apressado, pega outro sem perceber que está identificado como “cérebro criminoso”. Ignorando esse detalhe, Frankenstein utiliza o órgão em sua criatura e aguarda uma tempestade elétrica para dar vida à sua obra. Enquanto isso, o Dr. Waldman (Edward Van Sloan), antigo mentor do cientista, junto de Elizabeth (Mae Clarke), sua noiva, e Victor (John Boles), seu melhor amigo, tentam convencê-lo a interromper o experimento. Contudo, tomado pela ambição, Frankenstein prossegue e finalmente traz sua criação à vida, um feito extraordinário que logo se revela trágico.


Frankenstein 1931
Henry Frankenstein e o Monstro - Universal Pictures/Reprodução.

Frankenstein tornou-se um dos filmes de terror mais icônicos não apenas da clássica franquia da Universal, mas também do gênero cinematográfico como um todo. O longa se distancia do terror característico do Expressionismo Alemão — embora estilisticamente se inspire nele, com cenários irregulares e atmosfera gótica e sombria — e, diferente de outros filmes anteriores, como Nosferatu (1922), o horror aqui é menos gráfico e mais psicológico. Suas discussões giram em torno da moralidade humana: não é um simples filme de monstro. “Está vivo! Agora eu sei o que é se sentir como um deus!”, grita Frankenstein em um dos momentos mais marcantes da produção. É inevitável não refletir sobre as discussões científicas e religiosas que essa cena carrega.


Embora muitos iluministas acreditassem em um Deus criador que estabeleceu as leis naturais do universo, o Iluminismo colocou a razão humana como principal ferramenta para compreendê-lo, substituindo a fé e a revelação como fontes de conhecimento. O cientificismo, cada vez mais forte entre os séculos XVIII e XIX, parecia não encontrar limites na busca por entendimento, e o ser humano se sentia cada vez mais próximo de Deus. Então... por que não igualá-lo? Se essa crítica já era inovadora na literatura, também o foi no cinema.


Frankenstein 1931
Cena de "Frankenstein" (1931) - Universal Pictures/Reprodução.

É claro que o filme está longe da profundidade do livro em que se baseia, mas ainda assim é uma obra realmente inovadora. Seu maior destaque se deve à interpretação magistral de Boris Karloff como o Monstro. Somado ao excelente trabalho de maquiagem, Karloff encarna o personagem de forma impressionante. Sem falas e sem um roteiro brilhante, o ator depende apenas de sua fisicalidade para transmitir as emoções do personagem: medo, raiva e desespero.


Por outro lado, o longa não possui muito brilho além disso. Sua montagem é fraca, com o uso excessivo de fade outs nas transições, o roteiro não aprofunda os acontecimentos, e os personagens são rasos. Ainda assim, é inevitável reconhecer Frankenstein como uma das obras mais importantes do gênero e destacar a atuação de Boris Karloff como um dos monstros mais marcantes (senão o mais marcante) da história do cinema.


Para quem só se importa com números:

Nota- 7/10.


Ficha Técnica:

Título Original: Frankenstein

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Garrett Fort, Francis Edward Faragoh (baseado na peça de Peggy Webling e no livro de Mary Shelley)

Direção:  James Whale

Duração: 71 min.

Classificação: 12 anos.


Elenco:

Colin Clive como Henry Frankenstein

Mae Clarke como Elizabeth Lavenza

John Boles como Victor Moritz

Boris Karloff como O Monstro

Edward Van Sloan como Dr. Waldman

Frederick Kerr como Barão Frankenstein 

Dwight Frye como Fritz 

Marilyn Harris como Maria 

Michael Mark como Ludwig

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