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Crítica: “Anora” (2024)

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • 12 de fev.
  • 3 min de leitura

Um conto de fadas moderno inesperadamente cômico, desesperadamente dramático.

Por Igor Biagioni Rodrigues.

"Anora"- Reprodução/Universal
"Anora"- Reprodução/Universal

Em "Anora", Sean Baker nos leva a uma montanha-russa emocional, explorando a fragilidade dos sonhos e a dureza da realidade através da história de uma jovem stripper em Nova York. O filme conta a história de Ani (interpretada magistralmente por Mikey Madison), uma jovem dançarina erótica que trabalha nas noites de Nova York. Ani vive uma rotina repetitiva até conhecer Vanya (Mark Eydelshteyn), filho de um oligarca russo que está passando uma temporada de férias nos Estados Unidos e cuja vida se resume a frequentar baladas, dar festas e gastar dinheiro como se não houvesse amanhã. A partir daí, uma relação que começou por dinheiro se transforma em um casamento às pressas em Las Vegas. Ani estava vivendo um sonho, um verdadeiro conto de fadas – até que os pais do garoto descobrem. É então que Toros, um armênio que trabalha para a família de Ivan, junto com seu irmão Garnik e Igor (Yura Brosov- em excelente performance), o capanga russo recém-contratado, recebe a missão de fazer com que Ani e Ivan anulem o casamento.


A primeira parte do filme é lenta; o diretor dedica tempo a uma longa ambientação dos cenários e, principalmente, à construção dos personagens, deixando clara a diferença social e de personalidade entre os dois protagonistas. Mas é a partir do momento em que a família de Ivan descobre o casamento que a trama realmente engrena – primeiro, com uma sequência hilária, sustentada por um humor extremamente físico e improvável, e depois caminhando, cada vez mais, para um realismo duro e melancólico. Vale ressaltar como o humor escrito por Sean Baker é inteligente: ácido e provocativo, ele nos faz questionar se realmente deveríamos estar achando tanta graça daquelas situações.


"Anora"- Divulgação/Universal
"Anora"- Divulgação/Universal

A direção de fotografia faz um excelente trabalho. No início do longa, especialmente dentro das baladas e da casa de strip, a iluminação e as cores – muitas vezes criadas pelo uso de luzes neon – são quentes e vibrantes. No entanto, à medida que o filme avança, as cenas externas passam a ser compostas por cores opacas, duras e frias, refletindo a mudança no tom da narrativa.


Outro aspecto interessante é como, a partir da descoberta do casamento pelos pais de Ivan e da consequente aparição de Igor, a direção toma um novo rumo. O capanga russo é frequentemente enquadrado ao lado de Ani, de forma a reforçar visualmente o que deveríamos sentir em relação à protagonista. Assim como ela, ele ocupa a base da pirâmide social em que está inserido: seu corpo (sua força) é explorado como bem entendem, para depois ser descartado. Ani pode sentir asco por ele, mas, à medida que os eventos se desenrolam, torna-se nítido não apenas para o espectador, mas também para ela, que o abismo social entre ela e Ivan é grande demais. O garoto não possui profundidade alguma; para ele, tudo é uma grande festa, e tudo pode ser substituído, descartado e comprado – até mesmo a mulher que diz amar. No entanto, no primeiro confronto em que tudo o que possui é posto em risco, esse amor desaparece.


Cena de "Anora" (2024)- "Os de cima" e "os de baixo".
Cena de "Anora" (2024)- "Os de cima" e "os de baixo".

Ani descobre, a duras penas, que, apesar de não vivermos em uma sociedade estamental propriamente dita, essa estrutura ainda persiste. "Os de cima" descem e brincam com "os de baixo" como bem entendem, para depois retornarem ao seu lugar como se nada tivesse acontecido. Mas, se alguém "de baixo" tenta subir, isso incomoda – e muito. Ani esteve muito perto de conquistar seu sonho. Ela, que vendia ilusões, estava vivendo a sua própria, mas a dureza da vida não apenas a arrancou desse mundo, como também lhe revelou a liquidez de um amor vazio. E, quando se deparou com um possível amor verdadeiro e, principalmente, com a dura realidade de que sonhar não basta, não lhe restou nada além de suas próprias lágrimas.


Para quem só se importa com números:

Nota- 8/10.


Ficha técnica:

Título Original: Anora

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Sean Baker

Direção: Sean Baker

Classificação: 16 anos.

Duração: 139 min.


Elenco:

Mikey Madison como Anora

Mark Eydelshteyn como Ivan

Yura Borisov como Igor

Karren Karagulian como Toros

Vache Tovmasyan como Garnik

Aleksei Serebryakov como Nikolai Zakharov

Darya Ekamasova como Galina Zakharova

Lindsey Normington como Diamond

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