Crítica | "Jurassic World: Recomeço" (2025)
- Igor Biagioni Rodrigues
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Uma franquia em extinção?
Por Igor Biagioni Rodrigues

Após o decepcionante e tenebroso "Jurassic World: Domínio", foi anunciado que a franquia teria um novo filme, agora em uma espécie de soft reboot (uma forma de reiniciar uma série ou franquia mantendo certa continuidade com o material anterior, mas introduzindo novas direções criativas, personagens ou elementos narrativos) em "Jurassic World: Recomeço". O sétimo filme da franquia iniciada em 1993, surpreendentemente, não é ruim como seu material de divulgação (especialmente os trailers) fazia parecer. No entanto, independentemente disso, ele apenas reforça a percepção de que a série não precisa de um recomeço, mas, infelizmente, de uma extinção.
Neste novo capítulo de Jurassic World, acompanhamos uma equipe audaciosa em uma missão arriscada para coletar amostras de DNA das três maiores criaturas que já dominaram a terra, o mar e os céus. Cinco anos após os acontecimentos de "Jurassic World: Domínio", tornou-se evidente que o planeta já não é um ambiente viável para os dinossauros. Os poucos que restaram encontram refúgio apenas em regiões equatoriais isoladas, onde o clima ainda se assemelha ao que favoreceu sua existência no passado. Nesse ecossistema tropical, essas três criaturas colossais guardam o segredo para o desenvolvimento de um medicamento promissor, capaz de revolucionar a medicina e salvar inúmeras vidas humanas. A missão, no entanto, transforma-se em uma corrida contra o tempo, repleta de perigos em um mundo onde a natureza, e o terror gerado pela engenharia genética, reinam de forma bruta e absoluta.
Como já mencionado, o filme não é ruim, pelo contrário. Seu elenco carismático (principalmente Scarlett Johansson, Mahershala Ali e Jonathan Bailey), as cenas de ação, a trilha sonora e os efeitos visuais garantem uma boa dose de entretenimento. O roteiro, porém, carece de brilho, com uma construção frágil de personagens. Ainda assim, a escolha de trazer David Koepp para liderar o texto; roteirista do clássico de 1993; foi acertada, e há diversas homenagens ao longa original ao longo da narrativa. Destaco, em especial, uma das melhores sequências do longa e da franquia: a perseguição do Tiranossauro no rio (ela, por si só já faz a produção valer a pena). Essa cena, originalmente planejada para o primeiro filme, é também uma das partes mais memoráveis do livro e era um desejo pessoal de Spielberg tê-la naquela produção. Ela chegou a ser produzida, mas foi cortada por ser considerada redundante e cara demais pelo estúdio. Felizmente, mais de 30 anos depois, finalmente podemos conferir essa sequência de tirar o fôlego!
O longa também levanta discussões pertinentes sobre os danos causados pela ação humana no planeta, o uso indevido da ciência e os dilemas éticos que envolvem uma engenharia genética onde o homem assume o papel de Deus.

O problema, porém, não reside apenas neste filme em particular, mas sim no rumo tomado pelas produções ao longo dos anos. A franquia Jurassic dá sinais de esgotamento há algum tempo. Apesar de ocupar um lugar especial entre minhas produções audiovisuais favoritas (e sempre ocupará), é inegável que a cada novo lançamento ressurge o mesmo discurso: “a franquia está morta”. Embora a trilogia original tenha seu valor nostálgico e tenha contribuído para consolidar o legado da série, é preciso reconhecer que nenhum de seus filmes posteriores conseguiu alcançar o impacto e a excelência do longa inaugural de 1993.
Dirigido por Steven Spielberg, o primeiro "Jurassic Park" não apenas redefiniu os padrões técnicos e narrativos do cinema blockbuster, como também moldou o imaginário popular sobre os dinossauros. Sua abordagem como um verdadeiro filme de terror ecológico continua sendo única, e sua influência foi tamanha que inspirou uma geração de paleontólogos ao redor do mundo. O sucesso da adaptação do romance homônimo de Michael Crichton (autor que, vale lembrar, foi persuadido a escrever uma continuação para viabilizar sua adaptação cinematográfica) talvez devesse ter sido o ponto inicial e final da franquia.
Desde então, vemos lampejos do potencial da série em produções derivadas, como em alguns episódios de "Acampamento Jurássico", "Caos Theory" ou no excelente curta "A Batalha de Big Rock". No entanto, essas obras se limitam a ser breves vislumbres do que poderia ser explorado de maneira mais profunda. A insistência em roteiros centrados em híbridos genéticos e a repetição da estrutura narrativa do primeiro filme tornaram-se fórmulas desgastadas.
"Jurassic World: Recomeço" reincide nesse erro ao trazer novamente os híbridos como antagonistas, como se os próprios dinossauros já não fossem suficientemente fascinantes para o público. Curiosamente, essa percepção está presente no próprio filme, que, logo no início, afirma que os dinossauros não encantam mais como antes e que é preciso inovar. Fico me questionando se a Universal está atenta ao que suas próprias obras comunicam... Afinal, inovação é algo que não vemos na franquia Jurassic há bastante tempo. E se os dinossauros, de fato, não sustentam mais o fascínio do público, por que, então, os filmes da franquia (com exceção do original) continuam obtendo sucesso comercial, mesmo sendo, na melhor das hipóteses, apenas bons?

Em Recomeço, mesmo com a proposta de um soft reboot, o tal "recomeço" prometido se revela mais um rótulo mercadológico do que uma proposta narrativa concreta. Embora algumas sequências, como as protagonizadas pelo Mosassauro, Quetzalcoatlus e pelo T-Rex, consigam se aproximar do impacto e da tensão do terror ecológico do original, o restante da obra pouco inova ou surpreende.
Talvez o problema esteja em mim, por ainda criar expectativas em torno de uma franquia que, talvez, deva ser encarada apenas como um guilty pleasure. Resta torcer para que o futuro jogo explore o que os filmes parecem ter esquecido: o verdadeiro poder e fascínio dos dinossauros.
Para quem só se importa com números:
Nota- 6/10.
Ficha Técnica:
Título Original: Jurassic World: Rebirth
País de Origem: Estados Unidos
Roteiro: David Koepp
Direção: Gareth Edwards
Duração: 136 min.
Classificação: 14 anos.
Elenco:
Scarlett Johansson como Zora Bennett
Mahershala Ali como Duncan Kincaid
Jonathan Bailey como Dr. Henry Loomis
Rupert Friend como Martin Krebs
Manuel Garcia-Rulfo como Reuben Delgado
Luna Blaise como Teresa Delgado
David Iacono como Xavier Dobbs
Ed Skrein como Bobby Atwater
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