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Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025)

  • Foto do escritor: Igor Biagioni Rodrigues
    Igor Biagioni Rodrigues
  • há 6 dias
  • 5 min de leitura

Puro suco de Jack Kirby e Stan Lee!

Por Igor Biagioni Rodrigues.

"Quarteto Fantástico: Primeiros Passos"- Disney/Marvel: Reprodução
"Quarteto Fantástico: Primeiros Passos"- Disney/Marvel: Reprodução

Esse texto não contém spoilers!


Uma coisa é fato: os fãs da primeira família da Marvel sofreram (e muito) com as adaptações cinematográficas da equipe ao longo dos anos. Foram três tentativas (levando em conta que uma delas tem uma continuação) que beiram o desastre. Tirando os longas de 2005 e 2007, dirigidos por Tim Story (que são, no máximo, simpáticos), o Quarteto não tinha uma adaptação à sua altura. Ironia ou não, foi apenas na sua quarta versão que, finalmente, algo decente foi feito.


O longa, diferente da maioria dos reboots, opta por não “perder tempo” contando uma história de origem. Em uma sacada inteligente, por meio da apresentação de um programa de TV, somos apresentados, em poucos minutos, a quem são esses heróis, como ganharam seus poderes, os vilões que enfrentaram (com diversas referências aos quadrinhos para deixar qualquer leitor caçando o máximo possível de easter eggs) e como transformaram o mundo em uma utopia.


Como o apresentador fala logo no início: “A história todo mundo já conhece.” Durante uma missão experimental no espaço, um grupo de astronautas é atingido por uma tempestade de raios cósmicos. De volta à Terra, eles descobrem que foram profundamente alterados, desenvolvendo habilidades extraordinárias. Reed Richards agora consegue esticar seu corpo como se fosse borracha; sua noiva, Susan Storm, torna-se capaz de ficar invisível; seu irmão, Johnny Storm, passa a manipular o fogo e a voar; e o piloto Ben Grimm sofre uma drástica transformação, tornando-se uma criatura de pedra com força descomunal. Enquanto tentam entender suas novas condições, o grupo precisa enfrentar ameaças que desafiarão não só seus poderes, mas também sua união.


Antes de falar mais sobre o filme, permitam-me (como sempre) falar um pouco sobre os quadrinhos…


O brilhante Quarteto Fantástico de Kirby e Lee!

Quarteto Fantástico
Capa de Quarteto Fantástico n°1- Marvel Comics

A lenda já faz parte da história. O ano? 1961. A situação? Uma partida de golfe. Martin Goodman, publisher da Marvel, estava jogando com Jack Liebowitz, editor da DC Comics à época. Jack comentou sobre o sucesso da nova série da DC, a Liga da Justiça, que reunia vários heróis da editora. Goodman sentiu que deveria fazer o mesmo e encomendou algo semelhante a Stan Lee, seu editor.


Os quadrinhos de super-heróis não estavam em alta desde o fim da Era de Ouro e, durante os anos 1950, as histórias de terror vinham ganhando mais força. Stan Lee se uniu, então, a ninguém menos que o rei dos quadrinhos: Jack Kirby. Kirby havia saído justamente da DC Comics, onde criara um grupo de quatro aventureiros espaciais, os Desafiadores do Desconhecido. Inspirados nessa ideia, surgiu o Quarteto Fantástico: um grupo de exploradores espaciais atingido por raios cósmicos que adquirem superpoderes. Mas o Quarteto era mais do que um grupo de heróis: era uma família com conflitos internos e, além disso, se tornaram celebridades pelo mundo.


Esse foi o início de uma parceria que reinventou a forma como os quadrinhos de heróis eram vistos, o pontapé que elevaria a Marvel a um novo patamar e a tornaria digna da alcunha “A Casa das Ideias”. Nos anos seguintes, Kirby e Lee criaram histórias memoráveis da primeira família da Marvel, no mais puro espírito da ficção científica; em plena era da corrida espacial; com humor e dramas familiares. O ápice dessa fase talvez seja a obra-prima da dupla no título: “A Trilogia de Galactus”.


Quarteto Fantástico: A Trilogia de Galactus
Capas de "Quarteto Fantástico #48 a #50"- Marvel Comics

Entre as edições #48 e #50 de Quarteto Fantástico, publicadas em 1966, Stan Lee e Jack Kirby introduziram dois personagens marcantes ao Universo Marvel: Galactus, o devorador de mundos, e seu arauto, o Surfista Prateado. Essas edições ficariam conhecidas posteriormente como a "Trilogia de Galactus", consolidando-se como uma das histórias mais icônicas da equipe e um clássico da Era de Prata dos quadrinhos.


Quase cinco anos após a estreia do Quarteto Fantástico, principal título de super-heróis da Marvel à época, Lee e Kirby criaram um antagonista que rompia com o padrão dos vilões convencionais. Em vez de um criminoso comum, Galactus era uma entidade de escala cósmica, com poder quase divino, um ser que não agia por maldade, mas por necessidade. A saga culmina na edição #50, com o Surfista Prateado desafiando seu mestre e intercedendo pela humanidade, estabelecendo não só o impacto moral da narrativa, mas também o lugar essencial desses personagens no panteão da Marvel.


Voltando ao filme…


É em tudo isso que o filme se baseia e homenageia. A começar pela escolha do número da Terra deste universo: Terra-828, uma referência e tributo a Jack Kirby, nascido em 28 de agosto de 1917. Os vilões referenciados, a narrativa, os personagens e o próprio Galactus, além da estética retrofuturista que remete aos anos 1960 e à temática sci-fi. Aliás, o design de produção, a direção de arte e a trilha sonora são partes fundamentais do que faz o longa funcionar. Desde os cenários, o figurino, o uso e a emulação do Super 8 em cenas de flashback, até a fotografia em tons pastéis e a trilha sonora de Michael Giacchino.


O elenco também é excelente. Pedro Pascal interpreta um Reed Richards sensato, que calcula todas as possibilidades, por mais catastróficas que sejam. Joseph Quinn dá vida a um Johnny Storm que ganha um grande destaque no filme, um Coisa de Ebon Moss-Bachrach, que apesar do lado negativo de ter pouco e um raso desenvolvimento e tempo de tela, é puro carisma. Mas a grande estrela do filme é, sem dúvidas, a Sue Storm de Vanessa Kirby, que entrega a melhor versão da personagem (não que isso fosse difícil). Sue é poderosa, mas principalmente forte de personalidade, uma verdadeira “mãezona” no melhor sentido da palavra.

Surfista Prateada
Julia Garner como Surfista Prateada em "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos"

A Surfista Prateada de Julia Garner é impactante, não ficando perdida no meio de maquiagem e CGI. E a relação construída entre ela e Johnny serve apenas para reforçar o quão funcional foi a mudança de gênero do personagem. Galactus, por outro lado, é um dos pontos menos explorados do filme. Seu design é impecável, sua ameaça física, inegável, mas, se tivessem trabalhado mais a ideia de Lee sobre ele ser uma entidade filosófica, uma força da natureza que extrapola a dimensão do físico (como o MCU fez com Thanos), o resultado seria ainda melhor. Não que ele decepcione.


“Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” é um grande alívio para os fãs do Quarteto e da Marvel. O fato de ser um longa separado do universo principal o torna um alento em meio ao caos recente do MCU. Particularmente, eu preferiria mais um filme com essa equipe antes de vê-los numa superprodução ao lado dos demais personagens da Marvel e dos X-Men da Fox em “Vingadores: Doomsday” (filme pelo qual nutro os mais profundos receios). Mas esse é um problema para o futuro. Por ora, resta-nos celebrar essa linda ode à obra de Kirby e Lee.


Para quem só se importa com números:

Nota- 8/10.


Ficha Técnica:

Título Original: The Fantastic Four: First Steps

País de Origem: Estados Unidos

Roteiro: Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan e Ian Springer.

Direção: Matt Shakman

Classificação: 14 anos.

Duração: 115 min.


Elenco:

Pedro Pascal como Reed Richards / Senhor Fantástico

Vanessa Kirby como Sue Storm / Mulher Invisível

Joseph Quinn como Johnny Storm / Tocha Humana

Ebon Moss-Bachrach como Ben Grimm / O Coisa

Julia Garner como Shalla-Bal / Surfista Prateada

Ralph Ineson como Galactus



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