Conhecendo os quadrinhos parte 21: Graphic Novels
- Iuri Biagioni Rodrigues
- 14 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de jan.
Vamos conhecer a origem e significado do termo graphic novel
Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Na primeira parte da série Conhecendo os Quadrinhos, prometi que as graphic novels seriam abordadas em um outro momento. Pois bem, chegou a hora!
Se você já foi em alguma livraria ou prestou atenção em categorias de lojas online, certamente já se deparou com expressão graphic novel, não é mesmo? Há até quem diga que não gosta de quadrinhos, pois prefere ler graphic novels.
O termo Graphic Novel é bastante utilizado para se referir a certos tipos de quadrinhos. No Brasil, ele é traduzido como romance gráfico. Mas o que exatamente seria uma Graphic novel? Resumidamente, podemos dizer que não há uma definição precisa para este termo, além do fato de utilizar os quadrinhos como mídia. Para a pesquisadora Barbara Postema, este conceito não é muito preciso.
Para o quadrinista Bryan Talbot, “Uma graphic novel tem que estar estruturada como um romance, como um conjunto com princípio, meio e fim, com seus próprios temas e conceitos únicos para esta obra e não apenas como uma série de tiras compiladas para criar um livro”.
O uso da expressão Graphic novel foi popularizado pelo quadrinista Will Eisner com a obra “Um Contrato com Deus” lançada em 1978, mas já existia antes disso. A história mais conhecida sobre o papel de Eisner conta que ele estava conversando com um editor por telefone, tentando vender Um Contrato com Deus para ele. Para obter sucesso, Will Eisner precisava dizer que seu trabalho era mais do que uma história em quadrinhos, então usou o termo graphic novel que dava um status maior. Apesar de não ter criado o termo, não dá para negar que a atuação de Eisner foi importante para consolidar a expressão graphic novel.
Como lembra a pesquisadora Dani Marino, muitos estudiosos do assunto passaram a levantar questões acerca deste termo, perguntando se uma Graphic novel seria um gênero narrativo ou um suporte, uma forma onde os quadrinhos seriam publicados.
Em sua dissertação de mestrado, Beatriz Sequeira de Carvalho considera que a Graphic novel é um formato, ou seja, um suporte onde vários gêneros narrativos podem ser publicados. Ela também explica que a graphic novel como conhecemos hoje se desenvolveu nos Estados Unido, nas décadas de 1980 e 1990, a partir da compilação de histórias que foram publicadas de maneira serializada originalmente. Atualmente, elas são pensadas como uma história fechada em um único volume, podendo ter continuações.
Bom, qual seria a diferença entre uma Graphic novel para as publicações periódicas de quadrinhos? Geralmente, estas publicações são associadas a histórias fechadas que possuem uma qualidade gráfica maior como capa dura ou acabamento brochura, lembrando o formato de livro. O professor e pesquisador Roberto Elísio dos Santos comenta que a liberdade artística também é uma diferença. Nas graphic novels, as pessoas autoras têm mais liberdade para criar roteiros, disposição de vinhetas nas páginas e desenhos que sejam mais inventivos e inovadores, fugindo do convencional. Comumente, as graphic novels são escritas, desenhadas, arte-finalizadas, e às vezes, colorizadas pela mesma pessoa. Entretanto, isto não é uma regra.
Alguns temas comuns que são tratados em graphic novels são: atualidades, temas políticos e sociais, metalinguagem, temas de cunho existencial, entre outros. De um modo geral, são assuntos mais densos e profundos. Além de narrativas de ficção, encontramos muitas histórias reais como biografias, autobiografias e quadrinhos jornalísticos.
Dani Marino lembra que com o tempo, o termo graphic novel não era só atribuído às HQs com melhor acabamento e passou a ser atribuído a qualquer tipo de quadrinho que atendesse os requisitos para ter um ISBN e entrar nas livrarias, ou seja, poder ser comprado “por adultos preocupados com possíveis associações da leitura deste tipo de produto a uma mentalidade infantil.” Assim, para livrarias e algumas pessoas, dizer graphic novel é mais chique do que quadrinhos. Por isso, muitas pessoas criticam o termo.
Guilherme Smee sintetiza que as graphic novels “São uma forma de elevar o meio quadrinhos de uma forma mais artística e vendável do que os gibis de banca, mas também é uma forma de valorizar os autores e os conteúdos daquela narrativa.”
Vejamos exemplos de obras que podem ser consideradas graphic novels:
Maus de Art Spiegelman;
Fun Home: uma tragicomédia em família de Alisson Bechdel;
Persépolis de Marjane Satrapi;
Gênero Queer: memórias de Maia Kobabe e Phoebe Kobabe;
Ao Coração da Tempestade de Will Eisner;
Retalhos de Craig Thompson;
Frida Kahlo: para que preciso de pés? de Jean-Luc Cornette;
Jack Kirby: A Épica Biografia do Rei dos Quadrinhos de Tom Scioli;
Batman: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, Klaus Jansos e Lynn Varley;
Watchmen de Alan Moore, Dave Gibbons e John Higgins;
X-Men: Deus Ama o Homem Mata de Chris Claremont, Brent Anderson e Steve Oliff;
Superman: Paz na Terra de Paul Dini e Alex Ross;
Aqui de Richard McGuire;
O Grande Vazio de Léa Murawiec;
Aquele Verão de Jillian Tamaki e Mariko Tamaki
A Guerra de Alan: As Memórias do Soldado Alan Ingram Cope de Emmanuel Guibert
Turma da Mônica: Laços de Vitor e Lu Cafaggi;
Minha Coisa Favorita é Monstro de Emil Ferris;
Dias de Areia de Aimée de Jongh;
Monstros de Barry Windsor Smith.
Texto produzido com base em: Histórias em Quadrinhos: cultura, sociedade, criação e produção, O processo de legitimação cultural das histórias em quadrinhos de Beatriz Sequeira de Carvalho e Mas, Afinal… O Que é Uma Graphic Novel? de Guilherme Smee
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