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Crítica: X-Men - Deus ama, o homem mata

Os perigos do fanatismo religioso e da intolerância em uma excelente história dos X-Men

Por: Iuri Biagioni Rodrigues

Se você quer conhecer uma história de super-heróis que vá além da luta entre heróis e vilões que pretendem dominar, destruir e/ou escravizar o mundo, universo ou multiverso e que traga críticas sociais, temas mais sérios e problemas comuns ao mundo real, certamente, irá gostar de ler X-Men: Deus ama, o homem mata de Chris Claremont (roteiro), Brent Eric Anderson (arte) e Steve Oliff (cores), pois os focos aqui são o fanatismo religioso e o preconceito.


Esta história foi lançada nos Estados Unidos em 1982 no selo "Marvel Graphic Novel” (#5) e é uma história fechada, ou seja, você não precisa ter lido diversas outras histórias dos X-Men para entendê-la. Só é preciso conhecer os personagens e suas características. No Brasil, as publicações mais recentes desta obra são da Editora Salvat na edição 15 da coleção "Os Heróis Mais Poderosos da Marvel” em 2015 com tradução de Jotapê Martins e Helcio de Carvalho. Em 2023, a Panini republicou esta HQ.


Neste quadrinho, os X-Men Professor Xavier, Wolverine, Colossus, Noturno, Ciclope, Tempestade e Ariel (uma identidade de Kitty Pride) precisam se juntar ao seu maior inimigo, Magneto, o mestre do magnetismo, para enfrentar a intolerância do pastor Willian Stryker e seus seguidores que utilizam-se do nome de Deus para cometer atrocidades. (Já vimos isso diversas vezes ao longo da história não é mesmo?).


No seu programa na televisão, onde realiza pregações, Stryker dedica-se a dizer que os mutantes (Homo superior) são criaturas do diabo, enquanto os humano (Homo sapiens sapiens) são criaturas divinas. Além disso, prega o extermínio dos mutantes (esse lance líderes religiosos utilizarem meios de comunicação para atacar minorias lhe parece familiar?). Apesar desse fanatismo e preconceito, suas palavras conquistam diversos adeptos. Stryker também tem o dom de manipular e convencer multidões, o que facilita a difusão de suas ideias extremistas. Assim, o ódio contra todas as pessoas com o gene "X" cresce constantemente.



Os pensamentos de alguns dos X-Men sobre a onda de ódio propagada por Stryker

Stryker era militar antes de tornar-se pastor, então, obscuramente, ele coordenava um grupo de fanáticos chamados Purificadores que têm a função de dizimar os mutantes dos EUA.


A história também mostra um debate televisionado entre o Professor Xavier, mentor e líder dos X-Men, com Willian Stryker. Após este acontecimento, capangas do pastor sequestram o Professor X, Ciclope e Tempestade (que também estavam no local). A partir desse ponto, as coisas começam a ficar sérias, pois Stryker irá torturar Charles Xavier e tentar usar seus poderes telepáticos e psíquicos para energizar uma máquina capaz de matar todos os mutantes do país. Deste modo, os outros heróis da equipe se juntam a Magneto para impedir os planos do pastor fanático.


Uma das páginas mais conhecidas da história

Stan Lee e Jack Kirby criaram os X-Men em 1963 como uma metáfora para as minorias que eram perseguidas e vítimas de preconceito e intolerância pela sociedade, mas é nesta graphic novel que isto se torna mais evidente, porque muito mais que Willian Stryker e seus seguidores bitolados, os X-men enfrentam o fundamentalismo religioso, o ódio, a intolerância, e o preconceito deflagrado por eles através dos discursos e das atitudes.


O roteiro de Claremont é muito bem escrito. A trama é envolvente, os personagens e suas motivações são bem trabalhados e desenvolvidos (vale evidenciar o antagonista Willian Stryker, uma vez que seu arco que passa pelo seu passado como militar, sua relação com a família e fiéis e como ele tornou-se a pessoa horrível que é, é muito bem feito). Além disso, as personagens femininas têm destaque na história (o que é uma das características do trabalho de Chris Claremont), com o destaque para Kitty Pride. Ademais, de maneira geral, os diálogos são ótimos. O único ponto negativo é que alguns recordatórios e balões de fala contém textos que não precisariam estar ali ou por serem redundantes ou por excesso mesmo (famosa verborragia desnecessária dos quadrinhos de heróis). Entretanto, não é nada que estrague a experiência deste baita quadrinho.


Também é interessante notar que aqui, as lutas são muito mais através das falas e discursos (ideias) do que físicas com socos, chutes e poderes. Lembrando que as palavras e as ideias têm poder e que podem destruir, oprimir e manipular, mas também, podem salvar, curar e libertar. A trama deixa isto bem claro.


Após esta fala de Stryker, Kitty Pride responde: "Mais humano que você! Noturno é generoso e dócil e decente! Ele teve todas as razões do mundo para ser amargo, todas as razões para ser tanto um demônio por dentro e por fora. Mas ele decidiu rir, ao contrário! Eu espero ser metade da pessoa que ele é. E se eu tiver que escolher entre me importar com meu amigo e acreditar em seu Deus... Então eu escolho... Meu amigo!


A arte de Brent Anderson é muito bonita e traz layouts de páginas bem dinâmicos, ótimos enquadramentos e angulações e um belo trabalho nas expressões faciais dos personagens. As cores de Steve Oliff são escuras e sombrias , contribuindo para o tom mais pesado da narrativa.


X-Men: Deus Ama o Homem Mata é uma excelente história da equipe. A obra continua muito atual, evidenciando os perigos de seguir líderes religiosos que são intolerantes, extremistas e que se utilizam da mídia e da crença das pessoas para manipulá-las para atacar outras pessoas, bem como para defender seus interesses particulares e mesquinhos. Os perigos do fanatismo religioso e a importância do conhecimento, respeito e esperança para vencer toda e qualquer forma de preconceito e intolerância também são nítidos na HQ. Em suma, É um quadrinho que nos traz reflexões importantes e necessárias para os dias de hoje.


Observação/curiosidade: Alguns elementos desta graphic novel foram adaptados para o filme X-Men 2 (2003) dirigido por Bryan Singer. No longa, Stryker (interpretado por Brian Cox) que é o grande o vilão, é retratado apenas como militar, provavelmente para evitar a polêmica de representá-lo como um pastor fanático, torturador e assassino de mutantes como sua versão dos quadrinhos.


Para quem só se importa com números:

Nota = 9/10


Dados da HQ:

Roteiro: Chris Claremont

Arte: Brent Eric Anderson

Cores: Steve Oliff

Editora original: Marvel

Editora: Luise Jones (original) e Jim Shooter (editor-chefe original)

Editora no Brasil: Panini e Salvat (edição usada para a crítica, pois é a que eu tenho)

Editor: Rodrigo Guerrino (Salvat) e José H. de Freitas (editor-assistente - Salvat)

Tradução: Jotapê Martins e Helcio de Carvalho (Salvat)

Letras: Rui Alves (Salvat)

Revisão: Vera Ayres (Salvat)

Páginas: 60 (Salvat - Obs: no encadernado também tem o arco Dias de um Futuro Esquecido)









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