Crítica | “Argylle: O Superespião” (2024)
- Igor Biagioni Rodrigues
- 5 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Um marketing excelente. Um filme medíocre.
Por Igor Biagioni Rodrigues.
"Argylle" é uma história que utiliza o tropo da metaficção (uma ficção que tematiza a criação ficcional), na qual uma escritora chamada Elly Conway (interpretada por Bryce Dallas Howard) percebe que os eventos de seus livros de espionagem estão refletindo na realidade. Os personagens criados por ela, como o Agente Argylle (Henry Cavill) e Wyatt (John Cena), começam a ter suas próprias versões na vida real. Tudo isso ocorre enquanto Elly se vê envolvida em uma conspiração real ao lado do espião de verdade, Aidan (Sam Rockwell).
Em um diálogo do filme, é dito que "espiões mentem". Bem, pode-se dizer que o filme faz o mesmo. Sua campanha de divulgação foi focada no elenco estelar, especialmente em Henry Cavill, John Cena e Dua Lipa, que tinham destaque nos pôsteres. No entanto, isso se revelou apenas uma artimanha para atrair o público, já que Cena e Dua Lipa têm aparições breves e Cavill é subaproveitado em delírios da personagem de Bryce Dallas Howard. Aliás, o filme poderia entreter mais se contasse a história do mundo de Argylle, que parece ser mais interessante do que a trama escolhida pela película. Além disso, Henry Cavill e John Cena formam um ótimo par de espiões "brucutus". No entanto, foquemos no que temos, não no que poderíamos ter.
"Argylle" possui uma premissa interessante e grande potencial, mas os desperdiça. O tropo de metaficção é promissor e é explorado de maneira cuidadosa no início do filme, misturando uma trama de espionagem real com o bloqueio criativo da escritora. Infelizmente, o roteiro do filme vai esfriando cada vez mais, por vezes se levando muito a sério, por vezes sendo uma grande piada/sátira e não funcionando em nenhum dos dois aspectos.
A obra não se sustenta em nada. De que adianta um elenco repleto de estrelas e nomes consagrados se a direção é falha e o roteiro é fraco? O filme desperdiça talentos como Bryan Cranston e Samuel L. Jackson, que interpretam personagens extremamente caricatos e rasos. O mesmo acontece com Sam Rockwell, seu personagem entrega algumas cenas divertidas e frases de efeito, mas nada além disso. Falando em direção, o diretor Matthew Vaughn, responsável pela aclamada trilogia "Kingsman", conhecida pelo bom humor satírico e excelentes cenas de ação, não consegue fazer Argylle funcionar. O filme não sabe se deve se levar a sério ou não, a narrativa se explica demais e tenta tornar complexo aquilo que não é, autoproclamando-se uma conspiração global sem desenvolvimento algum. A trama se perde, tornando-se um grande conjunto de esquetes que não são engraçadas, em cenas de ação que não são boas, muitas vezes se estendendo demais e em um romance cuja química vai se esvaindo com o tempo.
Apesar do bom desempenho de Bryce Dallas Howard como a escritora Elly, ela se perde nas desnecessariamente longas cenas de luta e quando há uma reviravolta com a protagonista, temos o desperdício de uma boa personagem e um fato que também interfere na atuação da atriz. No quesito técnico, a Direção de Arte cria uma estética por si só e sem grande impacto na narrativa. O CGI (computação gráfica) é de baixa qualidade.
Em resumo, "Argylle" é um filme que se perde em si mesmo e desperdiça um grande potencial, com personagens que não nos importamos e com um humor disfuncional. Para piorar, entrega uma cena pós-créditos que indica ser apenas o início de uma nova franquia...
Para quem só se importa com números:
Nota- 5/10.
Ficha técnica:
Título original: Argylle
Países de origem: Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda do Norte.
Roteiro: Jason Fuchs
Direção: Matthew Vaughn
Duração: 139 min.
Classificação: 14 anos
Elenco:
Bryce Dallas Howard como Elly Conway
Sam Rockwell como Aidan Wilde
Bryan Cranston como Diretor Ritter
Catherine O’Hara como Ruth
Henry Cavill como Aubrey Argylle
Sofia Boutella como Saba Al-Badr
Dua Lipa como Lagrange
John Cena como Wyatt
Ariana DeBose como Keira
Samuel L. Jackson como Alfred Solomon
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